16.07.18
Nas entrelinhas de uma carta podem se ler muitas verdades, muitas tremulas sinceridades guardadas a sete chaves e que ganham vida, na transparência de palavras trancadas na inusitada alma.
Nas entrelinhas de um texto, se perdem lágrimas amarguradas, se escondem sorrisos imperativos, se entrelaçam desejos inconquistáveis, se amarram amores impossíveis...
Mas deixarão de ser sentidos aqueles sentimentos, esborratados pela tinta da nobre e solitária caneta, que obreiramente insiste em despejar para o papel, o que vai soletradamente surgindo pela frente?
Deixarão de doer aquelas feridas?
Deixarão de arder aquelas magoas?
Deixarão de existir cada pedaço da tamanha contradição?
Talvez sim...
Talvez não.
Nas entrelinhas de uma carta, de despedida ou de amor, sobejam virgulas e pontos finais, disfarçando o indisfarçável sentir, encobrindo racionalmente o que não pode ser racional...
O indisfarçável bater do coração.
Cartas em papel, num papel por vezes amarrotado, tão amarrotado como as pedras de um caminho inesperado, tão inesperado como aqueles fantasmas que nos acompanham a cada noite, por noites que se transformam em dias, penosos dias que se perpetuam no destino de uma vida.
Mas servem também essas cartas para expiar, quando possível, a definitiva partida de um grande amor...
De um intenso amor, desapegada forma de querer, onde nada mais importa do que esse sorriso teu, perdido no meio da multidão, nessa imensa multidão que circunda, envolve, enevoa...
E mesmo assim o descubro, sei onde está.
Mas também para isso servem...
Num adeus singelo, esventrada maneira de expiar sem força o que parece impossível fazer olhos nos olhos, encarando o tudo e o nada que representas.
E num adeus, uma vez mais adeus, partem as palavras, deixando as recordações, as mesmas que sobreviverão por entre o tempo, para por vezes arder, por outras doer, mas sempre significar...
Amor!
Filipe Vaz Correia