23.05.22
Um dia li um poema que falava sobre esse sentir que se transforma, nesse desistir do amor que se torna presença...
Fitei o poema com a crença de que jamais o reescreveria, nesse pulsar de medo que açambarca a alma, nessa tristeza que se instala.
Amar é o enorme enigma da vivência humana, esse pulsar que se traduz numa imensidão de querença e ao mesmo tempo uma derradeira entrega do que mais valioso temos.
Por entre linhas e desventuras, há muito que me perdi por entre tamanhos amores alheios, lágrimas e sorrisos distantes que contavam o turbilhão de outras vidas marcadas por falésias e desfiladeiros, por abraços primeiros e beijos derradeiros...
Nunca temi e sempre temi, nunca corri e tantas vezes fugi, nunca...
E tantas vezes.
Nas máscaras guardadas no sentir vou acumulando as feridas de um olhar que se perdeu, aquela confiança que desvaneceu com o entardecer desse querer...
Traições e arrependimentos, pequenas gotas de tristeza que brotaram dos olhos em momentos asfixiantes perante a indiferença, quase, insuportável.
Na mochila que carrego nesta caminhada guardo cada sinal esquecido, cada palavra, cada parte de um nós inexistente, recordações do que um dia foi uma história de amor.
Escrever é isso, libertar a cada segundo a chama intensa de um desejo maior de contar, gritar, vociferar...
Jamais se refaz a alma de tamanho golpe, mas terá de se tentar reerguer, levantar a cada queda como se o recomeço fosse renascimento, como se renascer não trouxesse consigo mágoas e memórias.
Velhas imagens, novas convicções num instante que se repete sem parar...
Por entre vidas, em novas planícies se reencontrarão velhas histórias, velhos personagens, com novos aprendizados, renovados rumos.
Amar vale sempre a pena mesmo que do outro lado a alma seja pequena.
Filipe Vaz Correia