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Caneca de Letras

21.10.19

 

Morreu Rui Jordão...

Já tanta gente escreveu sobre Jordão, esse jogador elegante, atleta de excelência, artista inesquecível.

Ponderei escrever sobre ele, não por achar ser pouco importante, antes pelo contrário, por considerar que a sua dimensão talvez não coubesse numa Caneca de Letras.

Nasci em 1977, por isso não tenho a noção exacta de Jordão no Sporting, para ser honesto recordo-me melhor dele no Vitória de Setúbal, numa fase descendente da carreira, com Manuel Fernandes, Meszaros e Mladenov.

Tempos distantes, momentos longínquos, que sobram na memória dos destinos.

No entanto, não posso deixar de aqui testemunhar a minha única vivência partilhada com esse senhor, esse mestre, essa lenda Leonina.

Há uns anos, num camarote do Estádio de Alvalade, preparava-me para assistir a mais um jogo do meu Sporting, com o Jaime Bessa.

Ao me aperceber que no nosso camarote estavam o Manuel Fernandes e o Jordão, alertei o meu querido Jaime para essa afortunada coincidência...

Disse-lhe logo:

Temos de os ir cumprimentar!

Assim fizemos...

Pedindo desculpa pela maçada, meio envergonhados, lá avançámos, destemidamente determinados em direcção aos ídolos de outrora.

Cumprimentámos os dois, ambos foram de uma simpatia assinalável, guardando para a posteridade essa memória que aqui partilho.

Passado esse momento, sentados no camarote, umas filas à frente do Jordão e do Manuel Fernandes, o Jaime perguntou-me se tinha reparado num pequeno pormenor...

Não! Respondi.

Então o Bessa explicou-me...

O Jordão tinha uma luvas de pele calçadas, devido ao frio que se fazia sentir, porém no momento em que o fomos cumprimentar, ele lentamente retirou a luva da sua mão direita para nos apertar a mão.

Não tinha notado...

Não havia reparado nesse pormenor, pormaior.

Um pequeno gesto, num singelo momento que desnudava o requinte, a educação, a elegância e excelência de um Ser Humano de excepção.

Dentro e fora do campo...

Um Senhor.

Até sempre, Rui Jordão.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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