04.07.20
O amor, esse pedaço de tudo que se transforma em respiração, em toque e sobressalto, em olhar perdido que se entrelaça no silêncio, em partilha intensa desmedidamente entregue.
O amor, palavra sacra e vã, tantas vezes atirada para o ar nesse querer que se torna mundano, nesse vazio impreciso tornado verdade, no entanto, no seu sacro esvoaçar se eterniza, em escassos momentos, raros amantes, por entre vidas...
Vidas distantes, tornadas uma só nessa entrelaçada explicação da alma, do terno e sensível coração.
O amor de Shakespeare, de todos os Shakespearianos, se esconde desencontrado nas estradas poeirentas e mundanas do destino, é escrevinhado a pena, desenhando letras que num ápice se fundem, num precioso e raro instante.
Nesse amor, o sacro, raro, floresce a inexplicável vontade de amar, esse entrelaçar de dedos que fortalece, esse quebrar de barreiras que solidifica, esse saber maior que nos une.
Amor, tamanho amor que bate e pulsa, que grita e se torna em melodia, que fundido num abraço nos torna um só.
Desse amor, o das imortais Odes, poucos serão os comuns mortais a o experimentar, salpicando as suas vidas nessa busca vã do nada que sobra.
Para as imortais almas que sobrevivem ao desgaste do tempo, que insistem nessa busca entre vidas, procurando incessantemente aquele eterno momento, onde pela primeira vez o sol insistiu em quebrar a barreira dos céus...
Para esses, os raros de Shakespeare, o tempo não passa, o toque não se perde, o cheiro não desaparece, o abraço é igual ao da tamanha descoberta.
Para esses, tudo é singelamente belo, nesse infinito olhar que tudo sabe, soletra, soletrando poeticamente a incerta certeza de um desmedido amor.
E viagem após viagem, no preciso sorriso desse desencontrado encontro, se repetirá, todas as vezes, a primeira.
A infindável primeira vez, naquele entrelaçado olhar que nos uniu...
Num inexplicável unir de almas.
Filipe Vaz Correia