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Caneca de Letras

30.05.19

 

Navego inquieta de mim, inquietada pelo mundo, quieta finalmente frente ao ecrã.

Não tenho, nunca tive medo das palavras, como recear então Caneca de Letras? E, ainda assim...
 
... não é um receio paralisador, pois se a genética me deixou em herança uma adrenalina mutante de nem lutar nem fugir, o ambiente aguçou-me o observar dialogar e agir.
 
... não é um receio deprimente, que desses nunca tive e desconfio que me não quereriam, desgastados mais do que agastados pelo relógio de quem tem mais o que pensar. 
 
... não é um receio envergonhado, daqueles que espreitam no canto do olho antes de deslizarem pelo queixo baixo e, com um quase baque, caírem sobre pés recolhidos. nos meus olhos não há canto onde a vergonha se possa esconder com medo, e os pés, por irrequietos, talvez a calcassem se assim caísse pois à vergonha quero-a portentosa ou morta.
 
... não é, sequer, um receio orgulhoso, grande, dos de enfunar os pêlos ao arrepio da pele e de estilhaçar de gelado o grito na garganta. esses são afastados com pigarreares de guerra e febris vontades de lusitana indómita, que ser corajosa é enfrentar os próprios medos como Viriato os romanos: com todas as armas possíveis.
 
Não.
É o receio de falhar a quem em mim confia. Nasce no respeito que me merece e prolonga-se na consideração, na estima, no carinho, tanto maior o receio quanto mais profundos estes. Alimenta-se do que sinto pelo outro, e cresce assim amparado, aconchegado no seio da minha auto-confiança. Não a mina, mas impele-me à superação pois que lhe traça os limites a fogo. E queima quando, consciente, percebo que fiquei aquém.
 
Como não recear então por Filipe Vaz Correia que, confiante, me abriu as páginas do seu blogue para numa delas eu me inscrever?
Inscrever como, escrever o quê?
 
Opto por nada escrever. Apenas recordar.
Recordar que somos gente e que, sendo gente, somos também animais.
Recordar que estamos no topo da cadeia evolutiva e que estar no topo não nos faz donos dos destinos do Mundo, Terra ou Sociedade. Antes nos responsabiliza.
Recordar que apenas seremos responsáveis em grupo quando assumirmos a responsabilidade pelos nossos próprios actos. Conscientes. Sem o que agiremos em manada, e onde, então, o que nos distinguirá das bestas?
 
Obrigada, Filipe, por este bocadinho. Recordar faz parte de sermos gente.
 
 
 
 
 
 
 
 

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