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Caneca de Letras

02.08.17

 

Continuo a escrever sobre a Venezuela, sobre o drama indescritível vivido por aquelas gentes, que se encontram ali aprisionadas, num misto de desespero aglutinador e de estupidez humana.

Olhando para esta realidade não é possível retirar deste contexto, o papel decisivo de um homem menor, o Presidente Nicolas Maduro.

Sempre que vejo noticias desse longínquo País, por tradição repleto de descendentes Lusitanos, não consigo deixar de me lembrar de Nicolae Ceausescu...

As semelhanças entre ambos são imensas, intelectualmente e até ideologicamente, sendo que acredito que o desfecho desta história poderá ser, também ele, igual.

A América Latina e o Mundo têm um vasto historial de ditadores, de regimes totalitários, durante longos anos, no anterior século e no atual, no entanto,  ditadores como Maduro e Ceauscescu, são unidos e legitimados pela sua própria ignorância, assim como, pela esperança daqueles que fazendo parte dos excluídos, em algum momento, acreditaram que essa ausência de cultura poderia significar simplicidade.

A Roménia Comunista era um País entregue a um homem, num regime desconexo e dependente desta família dominante, que moldou a vida e os comportamentos de tantas e tantas gerações.

Com os militares do seu lado, o Regime de Ceausescu ditou durante décadas as linhas com que se escreveria a História daquele povo, subjugados às experiências inacreditáveis de Nicolae e Helena, sua mulher...

Helena Ceausescu, praticamente analfabeta, teve em suas mãos durante anos a parte educacional e cientifica daquele País, sendo galardoada com louvores universitários e galões literários, em virtude de teses escritas por outros mas assinadas por si.

É aqui que me recordo de Nicolas Maduro, com o seu papel de Comandante, de líder supremo, meio entrelaçado com aquela genuína boçalidade com que expressa a loucura, que mora no seu miserabilista cérebro...

Mora sozinho no meio daquele palanque de onde discursa, naqueles monólogos ziguezagueantes, num desespero desconcertado que levará a Venezuela para um abismo, cada vez mais real.

Ceausescu tombou num dia de festa, num regresso a casa depois de uma visita de estado, na varanda de um dos seus palácios, diante de uma multidão...

As gentes vaiaram-no pela primeira vez, provocando espanto, estampado naquele seu olhar vazio, avançaram ao seu encontro e os militares que sempre o haviam apoiado, afastaram-se, abandonaram o pequeno ditador à sua sorte.

Ainda tentou fugir mas foi capturado ao lado da sua mulher, numa estrada perdida no meio de uma zona rural, onde pouco tempo depois foram executados, por entre gritos dilacerantes de Helena Ceausescu, não acreditando que aqueles homens seriam capazes de assassinar a sua "Mãe".

Era assim que se via...

Era desta maneira que a sua tortuosa mente acreditava ser vista, por todos os Romenos.

Nicolas Maduro, posso estar enganado, encontrará no meio de um discurso, no auge de um delírio, o julgamento popular que ele julgará impossível.

E assim, no meio destas semelhanças, por entre a loucura iletrada ou através da alucinação ignorante encontrada nestes dois homens, que talvez se possa vislumbrar a repetição de uma história...

E o fim do martírio de um povo.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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