25.09.18
Escrever uma carta nem sempre é fácil, ficando pelas entrelinhas, tantas vezes, letras perdidas, palavras meio feridas e moribundas ideias que permanecerão soltas por entre o papel.
A cada linha se encontram virgulas e "entretantos", desconexas vontades...
Em cada parágrafo uma mudança de linha que nem sempre representa uma mudança de texto, de sentir, de querença.
Por entre a tinta que acarinha cada palavra se entrelaçam gritos e silêncios, memórias e saudades, jamais desnudadas por completo.
A complexidade de escrever uma carta, quando ela se pinta da mesma cor da alma ou segreda o que habita no coração, será esse desvendar do Ser, esse despir da tímida alma.
Num abraço em forma de desenho ou num carregado adeus desenhadamente derradeiro, se perde a temporalidade que se transformará nessa intemporal inevitabilidade...
Da intemporalidade do que escrito está.
É assim mais difícil, por vezes, escrever do que gritar...
Falar com esse espelho de nós mesmos que se reflecte a cada instante quando revês o que se foi libertando de ti, ganhando forma, cor, intensidade.
E como por vezes é belo?
Outras dolorosamente belo?
Outras ainda...
Apenas vazio.
E assim neste desabafo em forma de carta se revê a tímida desesperança, carregada da imensa esperança que se prende a quem escreve...
Numa carta repleta de linhas, traços, desenhos e rabiscos, salpicados com uma pitada de poesia.
Filipe Vaz Correia