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Caneca de Letras

13.11.16

 

Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, um homem originário de um país contraditório, perdido nas próprias teias da sua história, dos meandros ainda mal explicados sobre as muitas tardes chuvosas, que durante muitos anos caíram sobre o solo político Argentino.

Aquando da sua eleição, fumo branco, o mundo levantou-se esperançoso, por aquilo que adviria de uma nova mentalidade capaz de voltar a erguer a influência cristã espalhada pelo planeta. Talvez não esperassem tanto...

Sempre fui católico, cristão, sempre senti dentro de mim o querer, a vontade, a crença, a culpa e tudo isso ao mesmo tempo, como suponho, qualquer devoto homem de fé.

Porém ao longo dos anos fui-me afastando, deixando-me cair numa penumbra, mais ou menos, consciente em relação à partilha da minha fé com os outros e na maneira como abertamente não a praticava.

Sentia-me distante, por vezes não entendendo como conciliar esses valores, com o espectro político que se vivia, vive, hoje em dia nas civilizações ocidentais...

O discurso que o Papa Francisco introduz, resgata na minha opinião, os valores fundamentais da doutrina católica e alerta, sem dúvida, para uma pergunta essencial no mundo em que vivemos:

O que aconteceu à Democracia Cristã?

Os partidos desse espectro político tiveram uma influência enorme, através das suas políticas, na construção das sociedades ocidentais de hoje, mas afastaram-se das suas matrizes, engolidos por dictames ultra-liberais, por pensamentos economissistas e por um capitlismo selvagem, cada vez mais reinante nos modelos actuais.

Ao desaparecerem desse campo de disputa política, esses partidos enraizados no centro direita, deixaram caminho a que outros se apoderassem desse espaço, dessa narrativa, desse direito a falar em nome dos excluídos e mais pobres da sociedade.

Quem hoje chega a esse eleitorado, são as forças de esquerda radical, nuns países e noutros a extrema direita que cavalgando em cima do descontentamento dessas franjas da população, consegue através de um discurso divisionista, segregador, odioso, alanvacar a sua força e influência, resgatando através do desespero dessas pessoas, uma nova esperança de moldarem o mundo ao seu ideal.

As palavras de Francisco serão para muitos, extrapoladas, inoportunas para a figura Papal, mas para mim são o assumir de uma liderança desaparecida, adormecida, na tentativa de fazer regressar os ideais cristãos, à luta política, à vontade de mudança que hoje se faz sentir por todo o mundo.

Não é expulsando muçulmanos, fechando fronteiras, construindo muros, sufocando as classes médias, que iremos resolver as diferenças que existem na sociedade actual...

Pelo contrário, é necessário entender que vivemos hoje espartilhados por uma cultura de austeridade, estritamente financeira, que bloqueia as vontades, as soberanias políticas em escolherem rumos alternativos na esperança de encurtarem as desigualdades.

Este discurso poderá, esperança minha, conjuntamente com os perigos do radicalismo que cada vez mais se vive por esse mundo fora, despertar consciências adormecidas, valores esquecidos, estradas outrora bloqueadas...

Talvez não seja tarde para refletir onde se perdeu essa democracia cristã, na encruzilhada dessa construção europeia que nos guiou até aqui.

Por mim, sinto-me hoje mais perto da minha fé, da igreja católica, da sua voz, do homem sentado na Cathedra de São Pedro...

Hoje, mais do nunca, sou Bergoglio.

 

Filipe Vaz Correia

 

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