04.10.19
Morreu Diogo Freitas do Amaral...
Um dos pais da democracia Portuguesa.
Freitas do Amaral entra na minha vida, através das palavras de meu Pai, desse reconhecimento pelo seu importante papel no afastamento do poder comunista que ensombrava o País no pós-revolução.
Freitas, Mário Soares e Sá Carneiro, cada um à sua maneira, desempenharam um papel significativo nesse travar das intenções do PCP e de Álvaro Cunhal na "soviétização" do nosso Portugal.
Não tenho memória desse período, no entanto, tenho inúmeras memórias sobre esse período, contadas, expressadas, por entre, conversas e opiniões.
A primeira memória, minha, absolutamente minha, foi na campanha eleitoral de 1986, Soares VS Freitas, onde este vosso amigo, claro está, defendia afincadamente o candidato Freitas do Amaral.
Foi a primeira vez que tive a noção do que era expressar essa querença política, do que era uma batalha eleitoral, num País fracturado, dividido entre direita e esquerda.
Tinha 9 anos e vivi com intensidade todos os momentos desse tempo, nesses dias onde tanto se disputava, onde muito se acreditava.
Freitas perdeu...
Mas não perdeu o direito de expressar a sua opinião, esse acérrimo desejo de trilhar o rumo que ditavam as suas convicções.
Freitas nunca mentiu, sempre afirmou o seu posicionamento como homem de centro, de ideologia Democrata-Cristã, apoiado na posição social da Igreja, sem receio de caminhar solitariamente em defesa dos seus ideais.
Fundador do CDS, foi muitas vezes acusado de ter abandonando o partido, sendo por demais evidente que terá sido muito mais o partido a mudar a sua identidade, do que o seu fundador, a trair os seus princípios.
Em 2005, Freitas do Amaral aceita fazer parte do Governo de José Sócrates, num gesto que lhe custaria, em definitivo, todo e qualquer afecto que ainda lhe pudesse reservar o centro-direita Português, deixando estupefactos alguns dos que se recordavam do seu papel nesse lado do panorama político.
Admito, sem hipocrisia, que fiz parte daqueles que não compreenderam ou aceitaram este gesto, que se indignaram com esta viragem à esquerda de um dos símbolos históricos da "nossa" Direita.
Neste dia em que parte, presto a minha homenagem a um homem culto e politicamente corajoso, sendo que o seu legado ficará para sempre impresso nas entrelinhas da História Portuguesa.
Solitariamente marcado, Freitas do Amaral foi um homem, verdadeiramente, leal às suas convicções.
O que para os padrões políticos da actualidade, já é uma absoluta raridade.
Por fim, as palavras de Antonio Lobo Xavier num jantar do CDS:
" A nossa história não se reescreve."
"Sem ele, porventura não estaríamos aqui."
Filipe Vaz Correia