15.11.17
Em África, os Deuses devem estar loucos...
Contrariando a lógica das coisas, de ditaduras, de ditadores reformados ou mesmo daqueles que estando no poder, já se ausentaram da sua própria personagem.
Nem queria acreditar, quando fui surpreendido com as noticias que chegavam de Harare, Zimbabué, de que Robert Mugabe, ou simplesmente o ditador Mugabe, estava detido em casa, acompanhado pela sua Mulher.
Noticias destas não são normais naquele Continente, principalmente em Regimes cristalizados, entrelaçados há muito, por entre manobras de poder e corruptos costumes...
Mugabe tem sido recordado após estas noticias pelos vários papeis que desempenhou, a sua luta pela Independência, o seus estudos na África do Sul, a sua proximidade em determinado momento do papel de Nelson Mandela, "Madiba" que nos perdoe, a sua intervenção no período pós-Independência e o consequente apaziguar de um País, juntando todos, num caminho que parecia de uma reconciliação...
Vários papeis, várias e diferentes memórias.
Recuso-me a participar nesses momentos de glória de um assassino, um perpetrador de genocídios, pois apesar de não negar esta sua participação Histórica, anteriormente descrita, a sua actuação e comando nos trágicos acontecimentos que levaram ao roubo e assassinato de várias famílias Zimbabweanas, Brancas, às mãos das suas milícias armadas, assim como a perseguição a todos os que a ele se opuseram, se sobrepõe a qualquer papel heróico, que possa ter tido.
Esse é o único legado de Mugabe que me interessa recordar, escrever:
O de um genocida.
Apesar de poucas informações circularem, sobre este alegado golpe, entretanto negado pelos militares, tenho de compreender as reservas daqueles que avançando com a deposição de um déspota, que há mais de 37 anos controla e governa o País, tentando certamente assim, repôr a ordem e a democracia, sem alarmismos e sem que a anarquia tome lugar nas ruas.
Um acto de coragem, que deverá ser analisado, para percebermos se realmente mudará ou não o destino daquele País.
No mesmo dia, noutro ponto de África anunciou-se a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol, que juntamente com um movimento de libertação de vários outros sectores do Estado, da omnipresente Família dos Santos e seus correligionários, dá a entender uma substancial alteração no "Modus Operandi", de um dos países mais ricos do mundo.
Será que João Lourenço conseguirá surpreender, todos aqueles que o julgavam uma marioneta?
Nos quais me incluo...
Rafael Marques, pessoa por quem tenho estima e admiração, pela denuncia e luta constantes contra o Regime opressor de Eduardo dos Santos, veio dizer que estamos perante o maior opositor de José Eduardo dos Santos e do seu temível Regime...
Será?
Será possível, que este homem tenha conseguido enganar todos os que dentro da cúpula do MPLA, acreditavam na continuidade?
Num dia, duas noticias que trazem esperança para um Continente há muito flagelado por ditaduras e déspotas, gente medíocre, capaz de sequestrar através de brutais meios de repressão, Povos que sendo na teoria livres, vivem em muitos casos, como escravos...
Escravos de uma Independência, que apenas chegou para os seus algozes, aqueles que os governam.
Assim, volto a escrever, descobriremos se em África, os Deuses estão mesmo loucos.
Filipe Vaz Correia