18.10.18
Não sei se o papel abraçará todas as letras que solitariamente ameaçam esvoaçar, nem se desejo soltar livremente essa vontade de expressar, nesta singela escrita, o que atormenta a alma. Interrogações insistentes, num insistência que inquieta, inquietando desmesuradamente, nesse desmesurar que não cala, nesse calar que se revolta, num revoltar permanente, como se essa permanência, fosse a derradeira inquietude do Ser. Tantas e tantas formas de gritar, num grito discreto, discreta timidez do querer, que quer e se perde, como se perder não fizesse parte do destino. E que destino pode ser mais desafiador, do que esse desafio de viver, vivendo desatinadamente, por entre, as intempéries da alma. Pois a alma que se agiganta também é aquela que se contorce, a que se silencia e chora, sem deixar de sorrir. Mas o valor de um sorriso, por vezes gesto impreciso, pode bem esconder a simples dor de um passado, de um presente ou de um destemido futuro. Mas o que serão as interrogações, senão o compassar dos dias, desse arrepiante acreditar no infinito, sabendo que o finito poderá exterminar o que queremos eterno, aquilo que sendo eterno queremos que sobreviva, acreditando na força de um despido olhar. Como é raro um despido olhar? É assim que te amo... Como se amar fosse apenas uma rajada de vento, por vezes fria, por vezes quente, no entanto, retemperadora, deslumbrante, desarmante. É assim que te olho, como se fosse a primeira vez, é assim que te desenho, como se cada traço fosse rabiscado inocentemente, é assim que te sonho, como se antes não ousasse sonhar. Estranha forma de escrever na correria constante do dia a dia, no acelerar dos acontecimentos, sem tempo para gritar... Sem espaço para parar. Mas se o amor é escrita, força bonita, então é, por entre, essas linhas que me perderei, por entre, essas letras que me deixarei levar, por entre, essas palavras que eternamente soletrarei...
Como é bom te amar!
Filipe Vaz Correia