17.02.17
Não consigo mais ver, nem ouvir em todos os jornais e televisões, esta polémica dos SMS e Emails entre o Ministro Centeno e o ex- Presidente da Caixa...
É inacreditável, na conjuntura actual, como a política portuguesa atingiu o seu grau zero de despudor e desinteresse.
Centeno é na minha modesta opinião, um bom técnico, ou seja, deve saber somar e subtrair, sabendo encontrar os respectivos símbolos na máquina de calcular, o que comparado com os seus antecessores, pelo menos na última década, é uma evolução a todos os títulos considerável.
No entanto, a sua habilidade política, é totalmente inexistente, desencontrada com a realidade, o que lhe provoca e tenho a certeza provocará, problemas suficientes para permitir a existência de inúmeros folhetins nos mais variados meios de informação portuguesa.
Vejamos bem, no quadro político actual, encontramos o PSD e o CDS indignados por um Ministro da República ter mentido numa comissão de inquérito...
A sério?
E vemos o PCP e o Bloco, acompanhando o PS nesta defesa sem quartel da dignidade e privacidade do Ministro...
O que diriam estes partidos se o Ministro se chamasse Gaspar ou Portas?
E se por alguma razão os partidos no poder fossem outros e lhes fosse negado, numa comissão parlamentar, o acesso a documentos que eles considerassem importantes para o seu esclarecimento...
Lá viria a palavra censura ou mesmo o Prof. Salazar para a actualidade, demonstrar que estávamos novamente a caminhar para outros tempos, noutro século.
Todos, sem excepção, se comportam de maneira oportunista, desmentindo com os seus posicionamentos, atitudes que já tomaram no passado e que voltariam a tomar, caso os papéis estivessem invertidos.
Vergonhosa incoerência.
Para mim, a questão dos SMS é verdadeiramente irrelevante, pois preocupa-me muito mais saber, para onde foram os Milhões em empréstimos que levaram a Caixa à beira da insolvência.
Quem são esses principais devedores e quem foram os administradores, nomeados pelo Estado, que aceitaram tais empréstimos?
Como serão aplicados os valores, nesta recapitalização da Caixa, ou seja, o dinheiro de todos nós, contribuintes?
Saber e discutir, qual a razão para a crescente onda de assaltos e insegurança que tem tomado conta do país?
Questionar o Governo sobre quais os dados e os estudos que levaram à tomada de decisão do novo Aeroporto de Lisboa, naquele local e não noutro?
Saber ainda qual o caminho que devemos percorrer, para ao mesmo tempo que diminuímos o déficit, podermos aproveitar o aceleramento da nossa economia, convencendo de vez, as temidas agências de Rating?
Mas isso pouco importa...
O que importa verdadeiramente para o país mediático, são os SMS de Centeno e a descoberta do microfone da CMTV!
E assim com Centeno ou não, sobra-nos a certeza de que continuaremos a caminhar sem tino, trica após trica, por entre este reality show de baixa qualidade, que se tornou a política e algum jornalismo, em Portugal.
Filipe Vaz Correia