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Caneca de Letras

16.11.17

 

Sempre que passo na Junqueira, sempre que ando por ali, deparo-me com uma parte desta tristeza, que intensamente me invade...

Andei no Rainha D. Amélia, em tempos distantes, longínquos e frenéticos, onde a porta daquele liceu parecia a entrada para um mundo sedutor que nos preenchia, fazia parte do nosso imaginário juvenil.

O Sr. Eusébio, sempre à porta, no meio de um rebuliço constante, por entre adolescentes sentados nos gradeamentos que ali se dispunham, por entre cigarros, namoros, conversas.

Admito que passei mais tempo no café Matinal, do que nas aulas com a Professora Lina da Paz ou o Professor Fiães...

Não me orgulho, mas não me arrependo.

O Rainha D. Amélia teve uma imensa importância em mim, na minha formação como pessoa, na maneira como vejo o mundo e como esse mundo que desconhecia, me tornou parte de si.

Nunca pensei que ao entrar para o Rainha, isso pudesse ser tão relevante no meu futuro, pois algumas das pessoas mais importantes que conheci na minha vida, devo-as ao facto de por ali ter passado, directa ou indirectamente, marcando assim, de maneira indiscutível, o meu percurso, o meu desencontrado destino.

Ao passar por aquelas portas, olhando para o ar abandonado com que actualmente se encontra, reencontro naquelas ruínas parte daqueles com quem privei, pequenas partes de mim.

Naquelas janelas fechadas, naquelas paredes a cair, vejo tristezas e sorrisos, memórias e histórias, conversas que ficaram perdidas num tempo, que já não volta...

Não se recupera.

O meu Rainha morreu, por entre a burocracia de um Estado negligente, sobrando a tristeza que insiste em me amarrar, sempre que pelas ruínas do Liceu passo, temendo também o dia em por lá veja, mais um qualquer Hotel...

Um outro espaço.

Um novo lugar, que esventre a memória, se imponha ao passado de milhares de almas, que durante décadas ali cresceram, sonharam, tentaram acreditar que era possível voar.

No meio dessas ruínas, encontra-se o meu obrigado, a todos aqueles que ajudaram a moldar o homem que hoje sou...

Professores, Continuas, Porteiros, Colegas, Amigos.

Tantas e tantas pessoas, que fizeram parte daquele mundo...

Um mundo em ruínas, mas que para sempre me pertencerá.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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