21.01.17
Aqui estávamos nós, perante o dia da tomada de posse de Donald J. Trump, como o 45º Presidente dos Estados Unidos da América.
Um dia que acabou por ser o que muitos esperavam, uma cerimónia triste, esvaziada de uma certa esperança que sempre acompanha estes momentos, com faces meio embaraçadas e com o povo longe de encher aqueles jardins e ruas diante do Capitólio.
Trump não desiludiu, com um discurso esvaziado de ideias, repetitivo, odioso, fracturante, populista, provocando em muitos momentos, um silêncio constrangedor, mesmo entre aqueles que ali o apoiavam.
Com um estilo arruaceiro, de punho erguido qual Hugo Chavez ou Fidel, Trump continua a atacar tudo e todos, tal e qual como na campanha eleitoral, desde Washington até à China, das fronteiras até à globalização, da imprensa até à Nato.
Assim, o senhor que se segue na Casa Branca continuará a coleccionar inimigos, externos e internos, o que lhe provocará, estou certo, valentes dissabores durante este mandato presidencial.
Enquanto esperava com tristeza e até estupefação, pelos comentários às fraquíssimas palavras de um Presidente cowboy, uma janela se abria no canto do meu televisor, com uma notícia de última hora, chegada da base militar de Andrews:
Barack Obama, falaria uma vez mais, antes de entrar no Air Force One.
Nunca havia sido feito...
Nunca um Presidente cessante, teve a ousadia de fazer uma conferência de imprensa enquanto o seu sucessor ainda assinava os primeiros papéis no Capitólio.
Obama fez e fez muitíssimo bem.
Em apenas oito minutos, voltou a trazer dignidade à função, a recuperar a esperança num olhar, num aceno, nas palavras...
"Uma vírgula, não um ponto final!"
Obama terá um papel importante no futuro dos Estados Unidos, na construção de um caminho que possa resgatar os valores e princípios Americanos.
A ignorância e a boçalidade tão visíveis em Trump, contrastam com a eloquência, a cultura, a imensa capacidade de nos prender com as palavras de Obama.
Por isso acredito que a América saberá contornar esta vírgula no papel, pois a história Americana não merece tamanha injustiça.
Filipe Vaz Correia