25.11.20
Estou sentado no mesmo cadeirão do meu pai...
Do meu avô...
Do meu bisavô.
Estou sentado na mesma sala de estar, com as mesmas janelas, com os mesmos quadros, com a mesma lareira acesa que há tantas gerações, acompanha os destinos da minha família...
Esta casa outrora cheia de vida, de luz, de histórias, onde revejo a correr os antepassados que não cheguei a conhecer, os filhos que tantas alegrias me trouxeram, as noites estreladas que iluminavam o jardim, as vozes que polvilhavam a minha vigorosa alma.
Aqui sentado revejo aquele menino de calções pelos joelhos, descobrindo em cada recanto daquela casa, o mundo imaginário que despertava a mente curiosa dessa minha infância...
Os beijos que troquei com aquela que seria a mulher da minha vida, nessa adolescência tão imberbe e ao mesmo tempo, tão repleta de memórias.
As primeiras certezas, nessa incerta vontade de crescer...
As primeiras tristezas, de um familiar a morrer e as inevitáveis facetas da vida humana.
Sentado neste cadeirão, recordo esses dias e noites, pincelando essa tela, misturando as aguarelas, nessa cor que acabaria por definir o rumo do meu destino...
Nesse quadro inacabado e em constante evolução, por essa estrada que se revelou, na mais bela viagem que algum dia vivi.
Agora aqui estou, sentado sozinho, no meio desta escuridão, apenas com a lareira acesa, as janelas fechadas, as cortinas descerradas e um copo de whisky gelado, aguardando o fim deste caminho...
Nesta casa vazia, despida dessa vida que um dia a preencheu, espero o reencontro com esse passado que apenas vive em mim e nestas paredes cansadas da minha velha casa.
E assim, sentado no cadeirão, que já pertenceu ao meu pai, ao meu avô, ao meu bisavô, aguardo a hora de serenamente partir...
Partindo por entre a última pincelada, colorindo esse quadro, por fim terminado...
Representando em cada traço nessa tela, em cada cor de aguarela, o meu colorido destino.
Filipe Vaz Correia