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Caneca de Letras

22.08.19

 

Já é noite e não vejo estrelas no céu...

Fecho os olhos e pareço voar, levitar levemente, deslizando por entre a ténue atmosfera que me envolve, num momento sonho, num outro realidade.

Abro os olhos e lá estou...

No topo do mundo, olhando para baixo, vislumbrando esse horizonte, deliciosamente, por descobrir.

Um barco de piratas, com as velas içadas, as gentes apressadas em pleno oceano...

O Capitão de espada na mão, com um gancho na outra, incentivando os seus homens a esventrarem aqueles que com eles se cruzassem, nesse mar alto carregado de peripécias por viver, de aventuras por chegar.

Do outro lado do mundo...

Um campo de futebol no pico de uma montanha, no cimo mais alto daquele lugar.

11 jogadores dispostos, frente a frente, duas balizas brancas em lados opostos e um campo verde, tão verde como doce, coberto de açúcar...

Benfica vs Sporting!

O jogo pode começar...

Mas antes de começar a bola a rolar, o meu olhar escapou por entre as folhas de papel, muitas folhas que formavam aquele arranha céus de livros, de histórias, de gentes e personagens.

Um mundo de lágrimas e sorrisos, momentos incertos e imprecisos, onde se pode voar sem medo de cair ou caindo sem temer o regresso ao princípio de cada capitulo.

Cruzo o meu olhar com o do “velho” Cocas...

Reconheço o seu olhar, companheiro de tantas aventuras, de tantos momentos que se entrelaçam nas asas do destino.

Oiço vozes...

Passos...

Acenderam a luz do quarto e tombei sem parar, sem rede, desde aquele céu, aquele infinito, ou seja, o tecto do meu quarto, até entrar nessa realidade deste mundo de adultos.

Deitado na cama olhei para minha Mãe...

- Rudy! Era o meu nome na expressão de sua voz.

Estava na hora do banho, antes de jantar, quebrando-se assim o sonho, alimentado pela imaginação que me desperta, fortifica, ganha asas deslumbrantes sempre que me é permitido regressar ao doce colo da terna infância.

Sonhar...

Sonhar, por entre, o aventureiro mundo de minha alma.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

07.08.19

 

Mais um massacre nos Estados Unidos, ou melhor, mais dois...

Parece que se repete esta tragédia, este entrelaçado terror que não cala, esta tortura que esventra a Sociedade Americana, num inexplicável caminho que se amarra aos tempos de um “belo” Western.

Adoro os Estados Unidos, foi aliás uma das viagens que mais gostei de fazer, sendo que a América que visitei, sei bem, está distante desta que aparece nos telejornais.

Estive entre Boston e Nova Iorque, há duas décadas atrás, numa viagem que me encantou e seduziu, apaixonou e arrebatou, sem hesitações.

A  cultura universitária e cultural que se respira na “velha” Boston, a costa Atlântica entre Cape Cod, Newport e Hamptons, num deslumbrante caminho até a Big Apple...

Ali no meio de cheiros e luz, de gente e fumo, cresce e respira a multicularidade, o constante rebuliço de mentalidades que se cruzam e acrescentam, àquele lugar, a magia que jamais imaginei.

Neste dia onde se vê e sente a brutalidade de mais massacres, fica claro que esta América caminha em dois carris diferentes, com mentalidades diferentes, com valores diferentes.

Se dependesse desta América que me apaixonou, há muito que a lei das armas havia sido alterada, provavelmente extinta, em contraposição com este lado, Texano, onde ainda se acredita na força do tiro, na determinação bélica do tempo dos cowboys.

Donald Trump já veio defender a punição daqueles que cometeram tamanho horror, mas sem a força ou a credibilidade que não lhe foi conferida pelo teleponto, onde moravam ou pareciam morar as descrentes palavras.

O discurso de Ódio, bem denunciado por Obama e tantas vezes feito por Trump, não pode ser o responsável por esta ou outras barbáries desta dimensão mas verdadeiramente contribui para a banalização de vários sentimentos pequenos, tacanhos e discriminatórios que se encontram em momentos como este.

Eu adoro os Estados Unidos, continuo a gostar, mas sei bem que a América que visitei e me entrelaçou, está nas antípodas desta que aparece na capa dos jornais.

Duas caras, por entre, o Sonho e o Pesadelo Americano.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

25.06.19

 

Quando há dois anos criei o Caneca de Letras, estava longe de imaginar que este espaço me poderia ligar a pessoas virtuais, perdão...

Pessoas que só conheço virtualmente mas que assumem uma importância na minha existência Canequiana.

Esses que por vezes se aproximam desta Caneca repleta de Letras, outros que até aqui já escreveram, tomando a Caneca como sua, num exercício de amizade Canequiana que tanto enobrece este espaço e este humilde escrevinhador.

Assim percorro este espaço Sapo em busca do que os meus caros amigos escrevem, lendo e sorrindo, absorvendo e questionando, entrelaçando com gosto, opiniões e palavras.

Tantas palavras que se tornam abraços, que aquecem ou refrescam, amarrando momentos e sentimentos.

Neste mundo Canequiano, por este pequeno mundo, senti a falta da nossa querida Desconhecida, amiga que por aqui sempre saltitava, alegre e contagiante, próxima e opinativa.

A sua ausência levou-me em busca dos seus escritos, da sua voz, numa mistura de saudade e querença de reencontrar essa pessoa que tanto significa para este Caneca de Letras.

A Desconhecida foi uma das primeiras subscritoras do Caneca de Letras, uma das primeiras a comentar e a escrever neste sítio de partilha e opinião.

Se alguém souber desta "Desconhecida" diga ou avise que andamos à sua procura.

Pois aqui existirá sempre espaço para uma alma Desconhecida.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

31.05.19

 

Escrevo, escrevinho a duras penas, buscando dentro de mim caminhos por desbravar, sentires esquecidos, palavras e cores sem tradução.

Escrevinhar constantemente desde que me recordo de recordar, numa entrelaçada curiosidade entre papel e caneta, mágicas letras completadas na grandiosidade do que juntas representavam.

Sentidos sentimentos na ponta da pena, por vezes com pena, pincelando a cena que se constituía em minha mente...

Silêncios compassados por batuques descompassados navegando por entre os loucos e medonhos receios da insana distância pueril.

Monstros e mestres, lobos campestres, desastres terrestres, tamanhas agruras...

Escrevo, escrevinho, escrevinhando a duras penas, sentindo apenas que vale convictamente essa brisa serena que levemente ecoa em mim.

Será a tua voz minha mãe, será o teu beijo meu amor ou serei somente eu num sonho distante trazido pelo bico de um pássaro...

Escrevo sem mais parar.

 

 

30.05.19

 

Navego inquieta de mim, inquietada pelo mundo, quieta finalmente frente ao ecrã.

Não tenho, nunca tive medo das palavras, como recear então Caneca de Letras? E, ainda assim...
 
... não é um receio paralisador, pois se a genética me deixou em herança uma adrenalina mutante de nem lutar nem fugir, o ambiente aguçou-me o observar dialogar e agir.
 
... não é um receio deprimente, que desses nunca tive e desconfio que me não quereriam, desgastados mais do que agastados pelo relógio de quem tem mais o que pensar. 
 
... não é um receio envergonhado, daqueles que espreitam no canto do olho antes de deslizarem pelo queixo baixo e, com um quase baque, caírem sobre pés recolhidos. nos meus olhos não há canto onde a vergonha se possa esconder com medo, e os pés, por irrequietos, talvez a calcassem se assim caísse pois à vergonha quero-a portentosa ou morta.
 
... não é, sequer, um receio orgulhoso, grande, dos de enfunar os pêlos ao arrepio da pele e de estilhaçar de gelado o grito na garganta. esses são afastados com pigarreares de guerra e febris vontades de lusitana indómita, que ser corajosa é enfrentar os próprios medos como Viriato os romanos: com todas as armas possíveis.
 
Não.
É o receio de falhar a quem em mim confia. Nasce no respeito que me merece e prolonga-se na consideração, na estima, no carinho, tanto maior o receio quanto mais profundos estes. Alimenta-se do que sinto pelo outro, e cresce assim amparado, aconchegado no seio da minha auto-confiança. Não a mina, mas impele-me à superação pois que lhe traça os limites a fogo. E queima quando, consciente, percebo que fiquei aquém.
 
Como não recear então por Filipe Vaz Correia que, confiante, me abriu as páginas do seu blogue para numa delas eu me inscrever?
Inscrever como, escrever o quê?
 
Opto por nada escrever. Apenas recordar.
Recordar que somos gente e que, sendo gente, somos também animais.
Recordar que estamos no topo da cadeia evolutiva e que estar no topo não nos faz donos dos destinos do Mundo, Terra ou Sociedade. Antes nos responsabiliza.
Recordar que apenas seremos responsáveis em grupo quando assumirmos a responsabilidade pelos nossos próprios actos. Conscientes. Sem o que agiremos em manada, e onde, então, o que nos distinguirá das bestas?
 
Obrigada, Filipe, por este bocadinho. Recordar faz parte de sermos gente.
 
 
 
 
 
 
 
 

20.05.19

 

 

 

Todos os gritos transformados num só;

Todas as vozes caladas,

Todos os sonhos reduzidos a pó,

Poeira desdenhada...

 

Todas as lágrimas desaparecidas;

Todos os olhares disfarçados,

Disfarçando as velhas feridas,

Em lugares desencontrados...

 

Todas as partes de mim;

Numa entrelaçada estrada,

Desapegadamente em busca de um fim,

Um fim cheio de nada...

 

Mas nesse horizonte ao luar;

Perdidamente entre poetas,

Vinícius, Cazuza, Pessoa ou Gilmar,

Se prende a mim, desperta,

Essa busca sem findar,

Da alma incerta...

 

E sem tradução;

Singelamente desacertado,

Se entrega o coração,

A esse destino acelerado,

Que ainda me consome.

 

 

 

 

 

13.04.19

 

 

 

Cada minha cicatriz;

Marca uma história,

Como um traço de giz,

Num quadro de memória...

 

Cada intemporal arranhão;

Ardendo eternamente,

Vai lembrando o coração,

Desse ferir desmedidamente...

 

Cada solitária palavra;

Libertada em verso,

Vai contando silenciosamente,

Os caminhos inusitados,

De um quadro desencantado,

Carregado de uma desesperante,

Saudade sufocante...

 

Cada parte de nada;

Nessa parte de tudo,

Agita a alma cansada,

Cansada do mundo...

 

Cansada e sem mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

05.01.19

 

 

 

Porque faz sentido a poesia?

Essa mistura de letras e palavras,

Voltando como maresia,

Num agigantar da alma,

Desesperada por um sentir,

Que mesmo fugaz,

Se imortalize...

 

Se torne intemporal;

Como o olhar de uma mãe,

Como a brisa do verão,

Um abraço desmedido,

Aquecendo o coração...

 

A poesia é beijo;

Ou um escondido desabafo,

Um intenso desejo,

Que não cala...

 

A poesia é um pedaço de tudo;

Um eco de nada,

Uma tela do mundo,

Uma voz retratada...

 

A poesia é enfim;

Uma beleza sem fim.

 

 

 

03.01.19

 

As palavras do Papa Francisco, despidas de qualquer véu, como tanto caracterizam o homem e o Santo Padre, tocam no fundamental da questão, nesse caminho de fé que irremediavelmente nos envolve.

" Vive como um ateu. Se vais à igreja, então vive como filho, como irmão, dá um verdadeiro exemplo."

" Quantas vezes vemos o escândalo dessas pessoas que passam o dia na igreja, ou que lá vão todos os dias e depois vivem a odiar ou a falar mal dos outros."

Num mundo carregado de populismos, onde o nome de "Deus" é usado frequentemente para suscitar divisões ou ódios, como sustentação de um ideal político, nada mais apropriado do que estas palavras do Papa Francisco.

De facto, o Papa tem conseguido me aproximar da fé mas não daquela que prega o castigo e a severidade, antes a que nos abraça com amor e compreensão.

Uma lição, singela, para populistas e hipócritas de plantão, servida com carinho do Vaticano para o "Mundo".

Obrigado...

Querido Papa Francisco.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

27.10.18

 

 

 

Não tenho com quem falar;

Nesta constante gritaria,

Nesse estranho esvoaçar,

De um extremo para o outro...

 

Gritos e mais gritos;

Olhares aflitos,

Sinónimos malditos,

Neste mundo em que habito...

 

Braços no ar;

Ódio a vociferar,

Ameaças a chegar,

Sem parar...

 

E o moderado;

Do outro lado da estrada,

Mudo...

 

Ensurdecido;

Esmagado por entre a multidão,

Caminhando para o abismo,

Desesperada escuridão...

 

Gritos e mais gritos;

De um lado e do outro,

Num constante absurdo,

De um mundo em desconstrução...

 

Já não grito;

Já não sonho,

Já não fujo...

 

Só observo desencantado.

 

 

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