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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Confissões

Filipe Vaz Correia, 15.06.19

 

 

 

Quando se enterra algo que nos é querido, tão querido que nos custa respirar, sobra sempre um pedaço de amargura amarrada à incerta certeza do inevitável adeus.

Essa presença presente do que jamais voltará a ser vivido ou que outrora se desejava realidade, vai se diluíndo no tempo, diluíndo cada parte escrevinhada nas páginas, outrora, em branco...

Talvez esse doer arda mais por isso mesmo, por essa certeza que sendo agora finita, não deixou de ser o que mais importava.

Nessa dicotomia vive a dor, a ardente sensação de tristeza, repetidamente aterradora e cerceadora.

Tanto tempo passado, marcas indeléveis de um querer tão intenso e desmedido, um sentir maior que esmagava o pensamento, abraçava o olhar, guardava por si mesmo todos os instantes numa singela aguarela à beira-mar.

Ainda pulsa esse querer, talvez amor, mas já não flui da mesma maneira, da mesma ingénua forma.

O coração aprendeu a se defender, apercebendo-se da solitária penumbra de tamanhos afectos, recusando a alfinetada permanente, nesse ausente mundo que tardou em chegar.

Por entre palavras e silêncios, sonhos apagados, gestos que se estimaram, se perderam os retratos da memória, os escrevinhados dessa história, as verdades tão sinceras como intensas.

É nesse fim que fica o medo, medo desse vazio que sobra após esse nada que ameaça sobressair no lugar de um desmesurado amor, no entanto, não se encontra rancor, mágoa ou ressentimento...

Talvez indiferença, esforçada indiferença que alcança cada momento, cada passo dado de forma insegura.

A vida continua, o mundo caminha e nós ficaremos por aqui...

Para lá deste epílogo, sobram lágrimas, a triste constatação de tamanho texto, de letras e frases soletradamente inquietas, na certeza de que amanhã o sol brilhará, o mar voltará a partir e chegar, numa dança permanente, sorridentemente provocadora.

E o escrevinhador voltará a escrever, a sorrir, a escrevinhar outra vez o pulsar do seu coração.

E esse coração voltará a ousar sentir e voar...

Sem medo de voltar a cair.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

John Stewart: O Comediante Que Virou Estadista...

Filipe Vaz Correia, 14.06.19

Quando, por estes tempos, a minha crença diminui em relação a esse imenso País, Estados Unidos Da América, existe sempre algo ou alguém que me recorda porque razão tanto me inspira a cultura Americana.

Mesmo com Trump, com essa espécie bacoca e boçal de pensamento, perdoem-me pela palavra pensamento, sobrevive na estrutura Institucional ou na sociedade Americana uma força maior que contagia, enobrece, recorda a todos os valores maiores que importa resguardar.

John Stewart, o comediante que durante anos apresentou o Daily Show, apresentou-se diante do Congresso num gesto resgatador de uma certa dignidade, por vezes perdida nos meios políticos, nos bastidores da alta roda política.

As palavras de John Stewart desmascarando os Congressistas ausentes e ao mesmo tempo dando voz aos esquecidos socorristas do 11 de Setembro, muitos deles moribundos, esventrados pelo cancro em virtude das suas acções heróicas nesse dia, abanaram os alicerces apodrecidos de um hipócrita Status Quo sediado em Washington.

Aprovar cortes nos apoios e pensões destes homens, em nome de orçamentos ou planos económicos da Nação, é o espelho final de uma sociedade desmemoriada e desprovida de valores.

As palavras de Stewart emocionaram-me, tocaram o meu sentir, num misto de indignação e orgulho, de revolta e contentamento.

Nada está ou estará perdido com exemplos como este, com gente que se levanta e grita não perante os abusos perpetrados por uma pequena elite, canalha, ridícula e sem dimensão para representar a Nação.

Os medíocres de hoje que não respeitam os heróis de ontem, nem se interessam por construir um futuro melhor.

Sem humor mas igualmente brilhante, John Stewart ousou nos recordar que vale sempre a pena lutar, sem medo, por aqueles que, de entre nós, foram especialmente maiores.

Thank You!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

Uma Cabala Contra Constâncio?

Filipe Vaz Correia, 14.06.19

 

Todos a perseguir Vítor Constâncio, num espectáculo vergonhoso em praça pública.

O anterior Governador do Banco de Portugal está na boca do Povo, vítima de manchetes sem fim, diárias, caluniando o seu bom nome e a sua idoneidade.

Meu caro Vítor, estou solidário consigo.

Afirmam que o senhor esteve em reuniões que afinal não esteve, estava certamente ocupado num outro assunto, insistem que aprovou créditos que não poderia aprovar, alfinetam ainda o doto Vítor sobre omissões e incongruências que este está exausto de tentar explicar.

Como poderia o "nosso" Constâncio desconfiar do "Comendador" Berardo, quando este se pavoneava por este País, como estrela maior nos idos de 2006?

Como poderia Constâncio vigiar com tão parcos recursos?

Como lidaria o anterior Governador contra leis e afins que o impossibilitavam de proibir contratos já efectuados?

Poderia Vítor Constâncio fazer melhor?

Claro que não!

Esta tamanha má vontade, de tantos ou quase todos, em relação a Constâncio, só pode ter sustentação numa cabala vergonhosa, numa tentativa de denegrir um profissional com tão bom nome por este País a fora.

Constâncio nada soube, nada ouviu, nada pode fazer...

Ou ninguém acredita na palavra do Senhor Doutor Professor?

Meus caros amigos, façam um esforço e tentem acreditar nas cândidas explicações do Ex-Governador, mesmo que vos cheire a flagelada incompetência, a imponente trafulhice...

Melhor do que esta gritante tristeza, somente escolher Filipe Pinhal, condenado enquanto Banqueiro, para desmascarar um seu igual.

Estamos e continuamos bem entregues.

Enfim...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Chernobyl Ou A Eterna Estupidez Humana?

Filipe Vaz Correia, 12.06.19

 

 

 

Existem notícias que sinceramente são surpreendentes...

Ou talvez não!

Segundo vários jornais, o turismo tem aumentado exponencialmente em Chernobyl, zona Ucraniana que há cerca de 30 anos assistiu ao maior desastre nuclear da História da Humanidade.

Turismo?

Sim... Turismo!

Segundo as mesmas fontes essa procura tem crescido devido ao sucesso da série da HBO com o mesmo nome, Chernobyl, potenciando assim a curiosidade de vários turistas.

Permitam-me discordar...

Estas pessoas viajam para uma zona, ainda hoje, com altas taxas de radiação, ignorando em vários casos avisos de proibição, na desesperada busca por uma selfie iluminada que lhes poderá valer uns likes no Instagram.

Este tipo de atitude não tem a ver com interesse Histórico, é apenas a constatação da estupidificação humana, esse lado imbecil de uma afirmação através de uma fotografia, de uma partilha da sua própria estupidez.

Sinais dos tempos?

Sinceramente, julgo que aqueles turistas que regressem de Chernobyl imaculados, com a saúde intacta, deveriam logo comprar mais um pacote de viagem...

Não perder tempo e partir rumo a Fukoshima, onde as radiações estão mais "fresquinhas", capazes de excitar os acéfalos de plantão.

Não percam tempo...

O Instagram vos aguarda.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

Brasil: Nem Política, Nem Justiça!

Filipe Vaz Correia, 11.06.19

 

 

 

Por cá andamos entretidos com a chegada de Jorge Jesus a terras Brasileiras, no entanto, por lá novidades preocupantes ganham força e tornam-se conhecidas do grande público.

Por estes dias foram reveladas mensagens trocadas entre o Procurador e o Juiz encarregues da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, actual Ministro da Justiça.

Sinceramente não é algo que me surpreenda, pois como já aqui várias vezes escrevi, tenho absoluta aversão a Juízes providenciais ou a Justiceiros populares.

Sei bem que num tempo de grande revolta e desencanto em vários pontos deste nosso globo, as sociedades e os seus cidadãos tendem em buscar na individualidade "divina", vulgo Homem Providencial, a resposta para combater as injustiças sentidas pelo "Povo".

Normalmente dá errado.

Não tenho dúvidas, convicção sustentada pelas peças jornalísticas saídas do processo, que Lula da Silva é culpado de corrupção, que a política Brasileira está apodrecida e envolvida em casos escandalosos, condenáveis não só criminalmente, como moralmente.

No entanto, a base de uma justiça saudável e confiável é a Imparcialidade do seu julgamento, o assegurar que todos, sem excepção, poderão contar com um tratamento irrepreensível da parte do julgador...

Aqui reside o problema da questão, Sérgio Moro já tinha dado indícios da sua extrema parcialidade neste caso da Lava Jato, já tinha dado sinais da sua pretensão política, aceitando entrar para o jogo político tendo sido ele parte efectiva nesse mesmo jogo que levou à eleição de Bolsonaro.

As mensagens reveladas por estes dias, expressam não só uma relação perigosa entre Juiz e Procurador, como também demonstram uma participação quase tutorial da parte do Juiz em relação ao Procurador, o que desvirtua completamente a noção isenta de Justiça.

Mais uma vez, nada que me surpreenda, apenas me indigne, pois estas pessoas nesse arrombo justicialista não se apercebem que mais do que deter um político corrupto, elas acabam por desvalorizar a sentença que o condena.

Aos olhos de quem vê este triste espectáculo, apenas a preocupante sensação de que ninguém está bem neste retrato...

Nem os corruptos que corroem as instituições políticas, nem aqueles que os deveriam julgar imparcialmente, acabando por ser cúmplices na construção de uma profunda desconfiança no sistema judicial.

E quando nem o poder político, nem o poder judicial dão respostas dignas aos anseios de uma sociedade, abrem alas para o Caos...

E do Caos nasce sempre o conflito.

 

 

Filipe Vaz Correia