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Caneca de Letras

15.06.19

 

 

 

Quando se enterra algo que nos é querido, tão querido que nos custa respirar, sobra sempre um pedaço de amargura amarrada à incerta certeza do inevitável adeus.

Essa presença presente do que jamais voltará a ser vivido ou que outrora se desejava realidade, vai se diluíndo no tempo, diluíndo cada parte escrevinhada nas páginas, outrora, em branco...

Talvez esse doer arda mais por isso mesmo, por essa certeza que sendo agora finita, não deixou de ser o que mais importava.

Nessa dicotomia vive a dor, a ardente sensação de tristeza, repetidamente aterradora e cerceadora.

Tanto tempo passado, marcas indeléveis de um querer tão intenso e desmedido, um sentir maior que esmagava o pensamento, abraçava o olhar, guardava por si mesmo todos os instantes numa singela aguarela à beira-mar.

Ainda pulsa esse querer, talvez amor, mas já não flui da mesma maneira, da mesma ingénua forma.

O coração aprendeu a se defender, apercebendo-se da solitária penumbra de tamanhos afectos, recusando a alfinetada permanente, nesse ausente mundo que tardou em chegar.

Por entre palavras e silêncios, sonhos apagados, gestos que se estimaram, se perderam os retratos da memória, os escrevinhados dessa história, as verdades tão sinceras como intensas.

É nesse fim que fica o medo, medo desse vazio que sobra após esse nada que ameaça sobressair no lugar de um desmesurado amor, no entanto, não se encontra rancor, mágoa ou ressentimento...

Talvez indiferença, esforçada indiferença que alcança cada momento, cada passo dado de forma insegura.

A vida continua, o mundo caminha e nós ficaremos por aqui...

Para lá deste epílogo, sobram lágrimas, a triste constatação de tamanho texto, de letras e frases soletradamente inquietas, na certeza de que amanhã o sol brilhará, o mar voltará a partir e chegar, numa dança permanente, sorridentemente provocadora.

E o escrevinhador voltará a escrever, a sorrir, a escrevinhar outra vez o pulsar do seu coração.

E esse coração voltará a ousar sentir e voar...

Sem medo de voltar a cair.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

31.05.19

 

Escrevo, escrevinho a duras penas, buscando dentro de mim caminhos por desbravar, sentires esquecidos, palavras e cores sem tradução.

Escrevinhar constantemente desde que me recordo de recordar, numa entrelaçada curiosidade entre papel e caneta, mágicas letras completadas na grandiosidade do que juntas representavam.

Sentidos sentimentos na ponta da pena, por vezes com pena, pincelando a cena que se constituía em minha mente...

Silêncios compassados por batuques descompassados navegando por entre os loucos e medonhos receios da insana distância pueril.

Monstros e mestres, lobos campestres, desastres terrestres, tamanhas agruras...

Escrevo, escrevinho, escrevinhando a duras penas, sentindo apenas que vale convictamente essa brisa serena que levemente ecoa em mim.

Será a tua voz minha mãe, será o teu beijo meu amor ou serei somente eu num sonho distante trazido pelo bico de um pássaro...

Escrevo sem mais parar.

 

 

16.04.19

 

 

 

Vales e montes encantados, bosques escondidos e entrelaçados, campos floridos e desencontrados, florestas de pedra, gélida pedra por derreter.

Caminhos e estradas, construções renegadas, por entre, letras sofridas de querença, de uma esperançada querença que se atreve a gritar.

Sonhos que se repetem, vozes que se agigantam, gentes e rostos que se amarram no olhar de quem habita na alma...

Na soletrada alma de um texto, numa prosa construída nas entrelinhas da imaginação, na desgarrada acentuação, como um desenhar geométrico, compassadamente descompassado, perigosamente desenhado.

Ventos e montes encantados...

Tantas e tantos momentos para escrever, formas de escrever, pinceladamente encobertas pelo, silencioso, silêncio de uma eternidade de papel.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

06.04.19

 

Um dia claro, num outro dia tudo escuro...

Num momento o mundo meu, num outro momento o mundo desconhecido, sem rostos, sem afagos ou abraços.

Num instante aquele olhar, num outro instante o vazio...

Uma palavra que chega e sossega o coração, num singelo pestanejar a mesma voz inquietando a alma.

Tanta certeza, numa incerta vontade que não controlo, nesse descontrolado destino que se assemelha ao destemperado querer pueril.

Num momento um velho, num outro um recém-nascido, sem forças para expressar tudo o que um dia foi aprendido, num ápice desaprendido.

Estou aprisionado dentro do incógnito esquecimento de mim mesmo, dos meus, de tudo e de todos...

E a cada assomo de recordação, em cada pedaço do que outrora foi construído, um sorriso vitorioso, para em seguida tudo se desvanecer numas trevas infinitas, infinitamente desperançadas.

Alguns chama-lhe Alzheimer, outros despedida...

Eu apenas lhe chamo realidade.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

05.04.19

 

Não grita a dor...

Nem dói o grito, nem consegue gritar o dorido sentir, mesmo que sentindo vocifere, vociferando baixinho, tão baixo como a sonolenta expectativa, expectativas frustradas, cantadas na canção, cantarolada emoção, que emociona o coração, por entre, batidas de amor, nesse amar obsessão, tornada razão, quase insultuosa forma de expressão, transformada em ilusão, sustentando ilusoriamente, a intrigante vontade de reescrever, o que se perdeu.

E assim, nas entrelinhas, por entre linhas, se rabiscam palavras, meio disfarçadas, disfarçando o que o destino, desatinadamente cumpriu.

Voltas e mais voltas, caminhos desconexos, soletrados ao vento, por momentos, sem esquecer...

Voltas e mais voltas, guardadas em mim, num secreto recanto de minha alma.

Num recanto, encantado, de uma história...

De uma singela história.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

11.03.19

 

Mar acima, mar adentro, na minha jangada de pedra, no meio dessa imensidão de água, azul cristalino que me rodeia, num horizonte longínquo, sem fim.

Na minha jangada de pedra, navego por esse mundo a fora, numa viagem sem fim, por entre o que desconheço, sabendo somente que dentro de minha alma, pulsa a curiosa, curiosidade, de um solitário rapazinho.

Nessa solidão, onde me encontro, nascem e renascem fantasmas e animais, gigantes animais, que submersos aguardam por um instante para se revelarem, desnudarem a face e surgirem como um cabo das tormentas, numa sinuosa vertigem, inesperada.

Continuo a remar, sem olhar para trás, fixamente querendo flutuar sobre as águas, gélidas e ameaçadoras, buscando uma razão para interligar o sentir ao querer, o desejar ao temer, o recordar ao viver...

Sempre navegando, sempre continuando.

No meio desse interminável querer, enfrento medos e receios, perco pedaços de um passado desconhecido, meio perdido, por entre, as lágrimas de outrora...

Lágrimas que se foram embora, antes que delas me pudesse recordar, antes que essa parte de mim, escapasse da razão e partisse juntamente com a emocionada emoção de uma criança.

Eu sei lá, se continuarei a percorrer as águas da imaginação ou se nunca mais irei acordar de tamanho pesadelo, pesado desvelo que me amarra sem calar, que me afoga sem nadar, que se entrelaça numa singela jangada de pedra.

Num momento, tão pequeno, ali estou...

Num outro, tão velho, ali me encontro.

Passou, tudo passou, sem rasuras, sem retornos, sem regressões.

Numa jangada de pedra, comigo levo os livros de minha vida, capítulos sem fim do que vivi, por entre, romance e drama, comédia e ficção, desabafos soletrados que me pertencem.

São os livros de minha vida, contando a minha vida, flutuando nessa jangada de pedra...

Numa jangada de pedra.

Na minha jangada de pedra!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

07.03.19

 

Sou uma planta bonita e delicada, mediana em altura mas fina.

As minhas pétalas são brancas, mais brancas do que a neve...

Cheiro bem, como se fosse perfume mas cheiro mal quando me arrancam do meu lar.

Lar doce lar, onde vivem as minhas amigas, a Margarida, a Girassol e a minha melhor amiga...

Uma Rosa encarnada, a mais bela de todas elas, assim como, eu sou a mais bela das Rosas brancas.

Muitas amigas minhas já foram arrancadas do seu lar, à força, até perderem as raízes...

Com sorte, ainda não fui eu.

Mas só ouvi-las a gritar, a pedirem ajuda e a murcharem, já é uma tortura.

Há dois dias arrancaram a minha Irmã, a Rosinha, que só tinha 10 anos...

Coitada!

E existem criaturas perigosas que rastejam pelo chão, comendo pétalas e folhas, chamadas Lagartas.

Agora já sabem como é a vida de uma planta.

 

Matilde Bessa

9 Anos

 

 

21.02.19

 

Viva a vida plenamente, hoje!

 

"Deveriam contar-nos, logo no início das nossas vidas, que estamos a morrer.

Assim, poderíamos viver a vida ao máximo, a cada minuto de cada dia. Faça isso! O que quer que deseje fazer, faça-o agora! Temos uma quantidade limitada de amanhãs."

                                                                                                           Michael Landon

 

 

Muitas pessoas adiam a alegria e a felicidade durante toda a vida.

Muitas pessoas fixam objetivos, e só depois de os alcançarem, serão capazes de desfrutar da vida em toda a sua plenitude.

É muito importante fixar objetivos, ajudam-nos a ter um sentido de direção e de foco, mas temos de nos empenhar constantemente para viver cada dia, gozando toda a alegria que pudermos, a cada momento.

A verdade é que se decidirmos sermos felizes agora, alcançaremos, automaticamente mais coisas.

 

Experimente tudo!

Seja excêntrico!

Saia e viva até não poder mais!

Conheça mais lugares!

Cheire as rosas pelo caminho!

Divirta-se!

 

Cuide de si!

Cuide dos seus amigos!

Cuide dos seus familiares!

Ame-os!

 

Ouse cometer mais erros!

Seja mais relaxado!

Seja mais flexível!

Seja mais apaixonado!

Seja mais espontâneo!

Seja mais criança!

Seja um excelente exemplo de Ser Humano!

 

Não leve as coisas tão a sério!

Acredite em milagres!

Tenha expectativas!

Permita-se ser imperfeito!

Não viva tantos anos à frente de cada dia!

 

Viva a vida plenamente, hoje, enquanto está aqui!

 

 

Agradeço ao meu querido amigo Filipe Vaz Correia o privilégio que me deu ao convidar-me a escrever na sua Caneca de Letras.

                                                       

                                    Luísa de Sousa

 

 

 

12.02.19

 

Perco-me no olhar, no mesmo olhar, de cada vez, de uma vez, como se fosse primeira, mesmo não o sendo, sempre inteira, despida de contradições, de dúvidas, de hesitações.

Perco-me sempre, por entre, o suspenso olhar que traduz palavras, secretamente adivinhando o fundo da alma...

Pois é a tua alma funda, esse pedaço de recanto que mais ninguém vislumbra, que consigo descodificar, abraçar.

Nesse instante, pequeno ou gigante, indiferente ao tempo, nada muda, nada permanece, simplesmente silenciando qualquer ruído, qualquer intervalo.

Nesse olhar que é amor, aquele amor que se impõe na terna saudade de te voltar a ter...

Pois tendo, se receia perder, perdendo, se receia a eternidade e que não se reencontre o tempo, que se tornou passado, ousando se tornar irrepetível.

E é nesses momentos que o singelo olhar, sem mágoas e carregado de esperança, enternece, cumprindo o seu destino...

Quebrando barreiras, indo buscar aquele bater da alma que poucos sonham existir.

Nada mais do que esse olhar, nada mais do que esse doce olhar,  tão frágil como uma folha caída na calçada, mas, ao mesmo tempo, tão forte como a beleza dessa imagem, repousada na intemporalidade de um poema.

É assim para sempre, secretamente, que se imortaliza o sonho, o desejo, os ternos ensejos de um gigantesco querer...

De uma História de Amor.

Como te quero pela intemporalidade de tantos e tantos destinos, cumpridos num só olhar...

Num só, eterno, olhar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

26.12.18

 

Arde em mim, pequenos pedaços de ti, partículas minúsculas que se agigantam no meu coração.

Arde em mim, um fogo desmedido, escondido na alma, numa entrelaçada vontade, danada, de te abraçar.

Mas como o tempo se vai escapando e com ele levando singelamente sorrisos imprecisos, levando também desabafos soletrados de um desespero calado.

No olhar, somente no olhar, se prende aquele querer só nosso, aquela eternidade que um imenso amor sonha merecer, pois nessas entrelinhas da vida, se reconhecem as almas gémeas, se prendem num segundo, os amantes de todos os tempos...

Aqueles que percorrem a eternidade para se reencontrar, na vida, na alma, na imensidão de um pequeno querer.

E nesse momento, por mais que os destinos se repitam, nada consegue adormecer os sentidos, pelo meio de perigos silenciados ou pela escuridão brilhante dos desejos.

Voltas e mais voltas para sentir outra vez aquele sabor teu, aquela doce realidade, onde voltaremos a sorrir, entrelaçados no tempo, pelo tempo...

Mais uma vez.

E de cada vez, será sempre a primeira, sempre inteira, verdadeira...

Pois só contigo vale a pena.

 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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