Ontem voltei à rua, como faço sempre, para a minha caminhada, passeio higiénico dizem os entendidos, e fiquei estupefacto com o movimento que encontrei em plena Avenida da República.
Nesta viagem quotidiana que serve de escape mental para a minha alma, redesenhei o movimentar das gentes, o que tinham sido os últimos tempos e o que encontrei diante de mim...
Um sentimento de libertação parece estar a invadir as pessoas, por entre, os decretos de "milagre" e os desejos de soltura.
Isto é capaz de dar asneira.
Durante a noite, no jornal da TVI 24, um conjunto de empresários se dispôs a dar o seu ponto de vista sobre esse futuro que chega, que se vislumbra...
Restauração, motoristas, cabeleireiros...
Que tristes tempos estes.
Patrícia Piloto, dona dos Cabeleireiros Lúcia Piloto, alertava para as regras de segurança que iria impor, e bem, num misto de segurança e filme de ficção científica...
Os profissionais do seu salão estarão de máscara, viseira, luvas e desinfectante, tudo por cliente, numa segurança máxima de fazer inveja a qualquer prisão.
E deve ser assim?
Deve.
Mas não pude deixar de constatar a tristeza, entre esse manancial de regras e parafernália necessária para uma senhora ir pintar o cabelo ou um senhor ir cortar o cabelo...
Onde se esconderam os Humanos?
No seu medo, no nosso modo de sobrevivência, que nos assegura a forma de respirar, de manter a cabeça à tona de água, buscando a solução para manter os seus negócios e ao mesmo tempo garantir a chancela "livres de Covid"aos seus clientes.
Mas perdemos um pouco de nós?
Perdemos...
Indesmentívelmente este futuro pelo qual lutamos será desprovido de toque e sentir, mais vazio e oco do que aquele a que estávamos habituados.
No restaurante ou no cabeleireiro, sentiremos todos um pedaço daquilo que sentiu o ET quando a casa dos seus anfitriões foi invadida pelos astronautas da Cia ou Nasa...
Máscaras, fatos, luvas e mais acessórios necessários.
Triste...
Mas vital.
Quem se imagina neste quadro de ficção?
Quem será capaz de viver o momento sem verter uma lágrima em nome da nossa antiga realidade?
Às vezes parece que a estupidez Humana se torna ainda mais inverosímil quando transportada para a desenhada realidade que nos cerca.
O Brasil...
O belo e extraordinário Brasil.
Os dias que correm são de estupefacção para quem de fora olha para dentro, para as esventradas entranhas de tão fascinante Nação.
Senti aquando da eleição de Jair "Messias" Bolsonaro, só o Messias já não augurava nada de bom estando este Messias aliado à IURD, uma sensação de arrepio Histórico, uma presença de desmedida estupidez.
Sei bem o quão difícil deve ter sido para o Povo Brasileiro ter de optar entre os corruptos do costume (PT) e o anunciado homem "providencial" que chegava montado em frases populistas e chavões religiosos.
Não deve ter sido fácil...
Mas estava à vista de todos.
Bolsonaro subiu ao poder, a escadaria do Palácio da Alvorada, num respirar fundo e passo em frente de uma Nação rumo ao abismo.
Militares, Evangélicos e o lobby das armas...
Que amálgama tão jeitosa.
Tudo para correr mal...
Bolsonaro que não passa de um boçal rodeado de escroques, tomava as rédeas do Pais e entrelaçava a sua ignorância aos destinos de mais de 200 Milhões de pessoas.
Triste samba.
Durante esta Pandemia ficou patente aos olhos de quase todos, claro que Bolsonaro também tem a sua Guarda Pretoriana, os seus indefectíveis, a sua Juve Leo...
Ficou claro aos olhos de todos a fragilidade dos seus ocos discursos, daquela moralidade estupidificante amarrada aos Evangélicos, daqueles chavões trauliteiros próprios de homens das cavernas.
Tudo ruiu...
Tudo está a ruir.
E porquê?
Porque nem sempre o salto em frente se apresenta como solução, nem sempre o desespero pode ser combatido com os vendedores de banha da cobra ou com déspotas que prometem matar o inimigo, sem pensarmos que quando chegar a nossa vez ninguém estará para impedir o desequilíbrio daqueles a quem entregámos as chaves de um País.
No meio desta Pandemia, com números falseados e políticas indescritíveis, o Brasil vive agora uma tragédia política com as demissões de Mandetta e Moro, sendo que este último saiu estrondosamente, implodindo as bases do que sobrou do Governo Bolsonaro e consequentemente do Bolsonarismo.
Acho que por lá ainda consta o nome da "Viúva Porcina", estrela mediática deste Governo, no entanto, até Regina Duarte já dá sinais de desgaste e abandono.
O Brasil está carregado de suspeitas, a corrupção de sempre, que não mudou, de assassinatos e chantagens, por entre, os filhos do Presidente e o seu circulo mais privado.
Mas o que esperavam ao votar num escroque?
O que esperavam ao votar num ignorante?
E agora?
O PT não é solução, antes pelo contrário, aliás nunca o foi.
Quem poderá aparecer, quem poderia agarrar no legado do último estadista que o Brasil teve sentado no Palácio da Alvorada, Fernando Henrique Cardoso...
Quem?
Não sei como poderá o Brasil sair deste período dramático da sua História, por entre, o acelerar da Epidemia, a tragédia económica e a loucura política ou Governamental.
De uma coisa tenho a certeza...
Não será com demagogos e populistas como Bolsonaro e sua trupe.
A folha em branco, aliada à quarentena, calou o escrevinhador sentir deste "Canequiano".
Prosa, Poesia...
Nada.
Uma frase, uma palavra, nada se liberta deste sentir meu, neste entrelaçado caminho que percorro vezes sem conta por estas linhas, nesta Caneca, através de tantas e tantas letras.
Como pode viver uma Caneca vazia de letras?
Amarrada à momentânea falta de inspiração do seu autor...
Quem gosta desta Caneca, mesmo que de mansinho, escreva um comentário neste texto, como se de um quadro de lousa se tratasse, com giz...
Para a semana tentarei escrever um texto, uma poesia, que entrelaçará o conjunto dos comentários expressos neste dia.
E se não existirem comentários?
Sobrará sempre a folha em branco, essa ausência de inspiração, que deu vida a esta triste ideia.