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Caneca de Letras

31.03.20

 

Umas vezes sobram palavras, outras vezes escasseiam silêncios, umas vezes distribuem-se abraços, outras vezes desaparecem os afectos, umas vezes nos inundam de sorrisos, outras vezes nos circundam as lágrimas, umas vezes...

De tantas e tantas vezes o mundo palmilha dias e noites, sempre em andamento, caindo bombas e sobrando gritos em soturnas temporadas de medo.

Noites escuras que encobrem os dias, os fazem cinzentos, tristonhos, mas sempre do outro lado do horizonte se prometem as alvoradas que ameaçam findar com as trevas.

O mundo avança...

Mesmo que silenciosamente, distante, sufocando com a intransigente  ausência das gentes.

Como fazer diferente?

Nada mais faz sentido, nesse sentir que se instala, por entre, estádios vazios, igrejas cerradas, estradas despidas e ruas silenciadas...

Já não sorriem os meninos de manhã, a caminho da escola, já não buzinam os atarefados senhores que correm para o trabalho, nem aceleram os autocarros e comboios apinhados de gente.

Já nada parece igual...

Nada parece ser igual.

Neste entrelaçado caminho que nos une, pretos e brancos, ricos e pobres, muçulmanos e cristãos, de todas as crenças, géneros ou pátrias...

Nada nos separa diante deste medo maior, deste flagelo imenso, desta Pandemia que chega e nos reduz à nossa singela insignificância.

Somo pequenos diante da Mãe Natureza e dos seus caprichos...

Tão pequenos que num instante somente a quarentena nos poderá valer da ameaçadora devastação.

Que iremos vencer ninguém dúvida...

Mas se iremos aprender com tudo isto?

Disso já sobram dúvidas.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

30.03.20

 

Lisboa vazia, sem cores ou rostos, sem alma, com as almas escondidas em casa, carregada de medos, medos justificados, que servirão de salvação no meio de tamanha Pandemia.

Os cheiros deram lugar à inodora solidão, ao insonso e desnudado confinamento que nos circunda.

Queira Deus que nos protejamos, que passe este tempo, parado tempo que suspende a vida, as vidas, encontros e desencontros que nos constroem, nos moldam.

País e filhos afastados, avós e netos à distância, amigos separados nesse desfasamento pouco Humano.

O que fazer?

O que fazer a não ser insistir?

Insistir sem olhar para trás, de portas trancadas, janelas fechadas para o mundo, esperando, esperando, esperando...

Como iremos sobreviver e sorrir no pós Pandemia?

Como soletrar ou trautear uma melodia quando os dias voltarem a ser corridos, a agitação rotina, o querer livre?

Nestes tempos até escrever é triste, até sonhar custa, até expressar a singela alma parece infinitamente distante.

Estou cansado...

Cansado mas firme, triste mas esperançado, enclausurado mas esperando o tempo onde possamos todos ousar voar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

28.03.20

 

O discurso do Ministro das Finanças Holandês no Conselho Europeu, não foi o único, é absolutamente repugnante...

António Costa assim o classificou e muito bem.

Parece que nada aprendemos com a crise de 2008, sendo que muitos dos que saltaram para fora do barco se apresentam capazes de fazer o mesmo assim que o Tsunami económico chegue.

Uma barbaridade.

Uma coisa a União Europeia terá de repensar...

O seu propósito.

Se não serve para uma solidária resposta num caso como este, então não servirá para nada.

Gostaria, não sei se gostar será o verbo, de ver o que valeria a Economia Holandesa, Austríaca, Húngara sem o chapéu de chuva do Euro.

Mantendo este tipo de atitude, se calhar, iremos descobrir mais cedo do que julgamos.

Pois desta resposta se fará o futuro da União Europeia.

Repugnante...

Bela palavra Senhor Primeiro-Ministro...

Absolutamente repugnante.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

27.03.20

 

No meio desta Pandemia, uma perguntar vem ao de cima:

Onde estão os liberais?

Passámos anos a ouvir teorias liberais, de profusas eminências pardas, que dissertavam sobre o peso do Estado na sociedade e na economia, teorizando tantas vezes sobre como deveríamos decrescer esse peso para sustentar o crescimento económico.

Agora...

Nestes momentos desapareceram essas vozes, esses entendidos que se deparam com esta transformação, vociferando agora por uma intervenção daquele monstro, o dito Estado, que tanto amaldiçoaram.

O Estado tem de intervir na economia, de intervir na sociedade, de impor regras e leis, de prevenir descalabros nas empresas e particulares.

Como Conservador, sempre defendi a intervenção do Estado e o seu peso na sociedade, talvez nos meus anos de juventude, 20 anos, no auge do sonho e aventura política, tenha tido uma pequena costela liberal, mas que logo se extinguiu ao observar os exemplos que nos anos seguintes me foram chegando.

O mercado regula-se a si mesmo, criando oportunidades e servindo de balança e estimulo à sociedade...

Muitos são os que defendiam este princípio, aqueles que gritavam à saciedade esta frase como mandamento maior dos seus valores.

O que esta crise pandémica vem certamente desnudar é a fundamental necessidade de existir um Estado forte, capaz de intervir e regular os princípios, muitas vezes selvagens, da nossa economia...

Um Estado capaz de ser rigoroso com as contas públicas, criando superávits em tempos de crescimento económico, pagando a divida pública, para podermos respirar em tempos de crise.

Nunca como agora isto ficou tão evidente.

Investir no SNS não pode ser algo de somenos, mas sim um imenso pormaior, nesse entrelaçado de escolhas que importa salientar.

Assegurar um caminho sem falhas, afastando os populistas que buscam, nas entrelinhas, fraquezas nas instituições democráticas que sustentam as Nações.

Imaginemos o programa do Partido Chega, do jovem André, que propunha o fim do SNS, a diminuição da Segurança Social e a minimização do papel do Estado no nosso sistema...

Imaginemos o que poderia ser esse cenário neste tempo de Pandemia.

Mas não falemos apenas de liberalismo económico...

O programa do BE propunha o endividamento do Estado como forma de sistematicamente alimentar os pedidos da sociedade civil, abrangendo déficits sistemáticos na casa dos 3%...

O que seria chegarmos aqui, com a divida pública que temos e com déficits sempre na casa de 3%?

Uma tragédia?

Claro.

Não existe espaço para populistas e demagogos, talvez esta crise pandémica nos possa fazer compreender, enquanto civilização, este facto.

Enfim...

Sobram questões e não faltam contradições por estes tempos mas mesmo assim arrisco voltar a perguntar:

Onde estão os Liberais?

Onde?

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

25.03.20

 

Não tenho vontade de sorrir, de voar ou de sentir, não tenho querer ou esperança, simplesmente desesperança nesta aprisionada existência entre quatro paredes, por entre, os grilhões mundanos.

Cabeças à janela, escondendo medos e anseios, pedaços de desespero pincelados no semblante, no olhar, na alma.

Já não se trocam beijos nem abraços, já não se apertam as mãos, deixando gélido o querer Humano, tão frágil e distante, num plano asfixiante carregado de terror.

Morre gente, muita gente, em todos os cantos dos recantos deste planeta.

E parece não terminar, não findar a angústia, esse pavor que consome o amor, esse fugir sem espaço, correr sem chão.

Faz-se silêncio, tamanhos vazios, secretos silêncios que agora se agigantam tornando hábito o que outrora era irreal.

Parques vazios, ruas despidas, nada e mais nada, numa correria que se perdeu, numa azáfama que cedeu o lugar ao tempo, tempo de espera, desesperada espera.

Apelos e novelos, relatos arrepiantes, que nos demonstram o quão pequeno é o destino diante da Mãe Natureza.

Nada somos...

Nada podemos...

Nada!

Tic tac, tic tac, tic tac...

O relógio não pára de correr, parado no mesmo lugar, assim como o raciocínio, o nosso, das gentes, buscando na memória dias diferentes na vida da gente.

Que Deus nos valha...

Que Deus nos proteja...

 

24.03.20

 

Vão ser tempos difíceis, muito difíceis, aqueles que iremos enfrentar, do ponto de vista da saúde pública mas também do ponto de vista económico, nesse bem estar comum que marca uma sociedade.

As empresas, essas que garantem empregos estarão estranguladas, encurraladas entre despedimentos e lay-offs, num cenário apocalíptico que se afigura cada vez mais real.

Em tempos de Tsunami, como os que vivemos, é impossível fazer previsões precisas, opinar com certezas sobre panoramas improváveis, mas o que sobra será a terraplanagem que se verificará no tecido económico Português e Mundial.

Temo essa realidade, esse frame do Dr° Jivago transplantado para o nosso País.

Não gosto de demagogia e populistas, porém, importa não lhes dar terreno.

Este País está, assim como a Europa e o Mundo, a enfrentar a mais dura provação, sendo imperioso que não se desvaneça a esperança que sempre nos caracterizou.

Importa ao espectro da União Europeia compreender que só sobreviverá Una se conseguir responder a este desafio com energia e rapidez, avançando um pacote económico tão imenso como eficaz.

Não iremos lá com respostas pontuais ou descoordenadas entre Estados mas sim com uma completa e coordenada intervenção nos mercados e na vidas das suas populações.

Tempos difíceis, tempos esses onde os abraços e beijos são armas, onde o afecto é companheiro da infecção e onde se desencontra a Humanidade dessa proximidade que caracteriza a essência Humana.

Só através do olhar poderão sobreviver os afectos, aquele calor que subsiste nas palavras, esse amor que resiste na voz, na alma...

Abracemos com o olhar, beijemos com o olhar, esperando nas entrelinhas deste mundo de pernas para o ar, que se encontre uma solução para voltarmos a sorrir e sonhar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

23.03.20

 

Poesia, poesia;

Que serves de resistência,

De alucinada maresia,

Enlouquecida paciência...

 

Umas vezes ponto e vírgula;

Outras vezes interrogação,

Estridentes gritos de Calígula,

Por entre vagas de alucinação...

 

E viajando sem demora;

Por esta amargurada quarentena,

 Ansiando a dita hora,

Dessa soltura serena...

 

E do outro lado da janela;

O vazio...

 

Do outro lado da rua,

Um intenso nada...

 

Esse imenso calafrio,

Que tarda em passar...

 

Volta velha esperança;

Vai resgatando a humanidade,

Vai buscando a desaparecida querença,

Vai despertando a eterna saudade...

 

Poesia...

Poesia...

 

Não abandones o pedaço de nós,

Que insiste em suportar,

Os tamanhos medos,

Escondidos em cada sorriso,

Disfarçando o receio,

Da finitude humana.

 

 

 

17.03.20

 

O meu querido amigo Robinson Kanes regressou ao Sapo Blogs, no seu Não É Que Não Houvesse, com um texto intitulado Convid-19: A Pouca Vergonha Mediática.

Sinceramente tinha imensas saudades de o ler, visto estar afastado destas andanças desde Janeiro, e como lhe disse uma vez, não é que não houvesse(m) outros blogs para ler mas este tem, realmente, uma sabor especial.

Mais uma vez a crua e sincera visão do Robinson, analisando sem receio a podridão que se esconde sob a capa da informação, tantas vezes ávidas de leitores que se perdem, por entre, inverdades e especulações.

Assim, festejando este regresso, daqui envio em forma de post um abraço do tamanho do mundo, por aqui ainda é permitido abraçar, sabendo bem que, por entre, letras e palavras se encontram, tantas vezes, pessoas especiais.

Um abraço meu caro Robinson Kanes...

Bem Vindo.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

16.03.20

 

 

 

Uma Era diferente, tempos diferentes, carregado de solidariedade e lixo.

A atitude denunciada pela Alemanha, perpetrada por Donald Trump, tentando comprar em exclusivo para os EUA os direitos da vacina para o Coronavirus, demonstrar o que estava a nu para todos...

Estamos na presença de um escroque da pior espécie, sem qualquer tipo de princípios ou valores, populista e demagogo, "canalha" na sua essência.

Um lixo de atitude que elucida qualquer dúvida sobre o "raciocínio" do actual Presidente Americano.

A Senhora Merkel manteve a postura, interveio e assegurou o direito Alemão em manter a investigação e investigadores dentro de muros, para bem de todos nós.

Lixo é coisa que não tem faltado...

Os áudios que circulam pelo Facebook com pseudos louvores a experiências Chinesas, de gente que vivendo fora detona a política Portuguesa no combate a esta pandemia, aliás como foi boa a experiência chinesa?, vivência nunca vivida neste patamar, nestes tempos, com estes desafios.

Aqueles que realizam estes áudios, pulhas em busca de momentum, são idiotas que criam estas fake news, alarmando e pontuando com imoralidade a realidade das populações.

Sinais de solidariedade e coragem também não têm faltado, como no caso de todos os profissionais de saúde que estão na linha da frente, dando as suas vidas para assegurar o bem maior...

O bem estar de todos nós.

As vozes e palmas à janela, cantando e espantando fantasmas, dando um imenso obrigado a todos os que estando no terreno correm riscos desmedidos.

A esses e a todos aqueles que se esforçam por cumprir as restrições, um agradecimento Canequiano, nesse círculo de letras Lusitanas com a esperança maior que tantas vezes protegeu este pedaço de Nação à beira mar plantado.

Boa sorte Portugal...

Boa sorte Mundo!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

14.03.20

 

Todos em casa!!!!!

Sem excepção...

Pelo menos todos os que não poderão ajudar nesta luta contra a pandemia.

Não vale a pena açambarcar, ir para os supermercados e comprar desmedidamente como se não fosse existir mais comida, contribuindo para um pânico que em nada contribui para os tempos que vivemos.

Vamos viver em comunidade e com responsabilidade, com receio mas sem o desespero que nestes momentos ameaçam a sanidade e acendem egoísmos bacocos.

Tempos diferentes se aproximam, fazendo recordar àquelas páginas do livro de História e que pareciam inverossímeis e distantes...

Peste negra, pneumonia espanhola, o início da SIDA...

Como é possível?

Ouvir as histórias do que se passa em Itália, com tendas montadas nas ruas, centros de crise, doentes amontoados em casa à espera de morrer, sem que o sistema de saúde italiano tenha resposta para todos, mais do que indescritível é absolutamente inacreditável.

Enfim...

Vivemos novos tempos, com a mudança de paradigma no mundo, pois nada deverá ficar igual.

Que este Coronavirus passe, vá embora e possamos todos por aqui continuar escrevinhado sobre problemas do dia a dia, problemas esses banais, quando confrontados com esta pandemia.

Andrà Tutto Bene!

Tudo ficará bem!

Se Deus quiser...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

 

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