31.03.20
Umas vezes sobram palavras, outras vezes escasseiam silêncios, umas vezes distribuem-se abraços, outras vezes desaparecem os afectos, umas vezes nos inundam de sorrisos, outras vezes nos circundam as lágrimas, umas vezes...
De tantas e tantas vezes o mundo palmilha dias e noites, sempre em andamento, caindo bombas e sobrando gritos em soturnas temporadas de medo.
Noites escuras que encobrem os dias, os fazem cinzentos, tristonhos, mas sempre do outro lado do horizonte se prometem as alvoradas que ameaçam findar com as trevas.
O mundo avança...
Mesmo que silenciosamente, distante, sufocando com a intransigente ausência das gentes.
Como fazer diferente?
Nada mais faz sentido, nesse sentir que se instala, por entre, estádios vazios, igrejas cerradas, estradas despidas e ruas silenciadas...
Já não sorriem os meninos de manhã, a caminho da escola, já não buzinam os atarefados senhores que correm para o trabalho, nem aceleram os autocarros e comboios apinhados de gente.
Já nada parece igual...
Nada parece ser igual.
Neste entrelaçado caminho que nos une, pretos e brancos, ricos e pobres, muçulmanos e cristãos, de todas as crenças, géneros ou pátrias...
Nada nos separa diante deste medo maior, deste flagelo imenso, desta Pandemia que chega e nos reduz à nossa singela insignificância.
Somo pequenos diante da Mãe Natureza e dos seus caprichos...
Tão pequenos que num instante somente a quarentena nos poderá valer da ameaçadora devastação.
Que iremos vencer ninguém dúvida...
Mas se iremos aprender com tudo isto?
Disso já sobram dúvidas.
Filipe Vaz Correia