Poderia Ter Sido Diferente? Ainda Bem Que Não Foi...
Espero sempre que o telefone toque...
Que seja a tua voz que se encontra do outro lado, nesse encontro perdido e que amiúde me invade, buscando reencontrar o doce timbre de um aconchegante passado.
Olho pela porta entreaberta, por entre, as frestas da janela nessa imaginada procura que não chega, não chegará e que se perdeu sem compreender o tempo que o tempo traz e leva, resgata e afasta, mata e esventra, em cada pedaço do que fica na desprendida memória.
Como poderia ser diferente?
Vezes sem conta ligo para aquele número gravado na memória do telefone, ouvindo repetidamente aquele gravador, como se algo, por um segundo, se tivesse alterado, modificado, sendo diferente, nesse perder que ainda amarga e dói, queima e arde, esmaga e faz arrepiar.
Tenho saudades...
Por vezes esqueço, mesmo não querendo, pois o tempo na sua infinita crueldade, acaba por atenuar a dor, acalmar o ardor que constrói a solitária imensidão de um desesperado vazio...
Mas aqui regresso.
Como poderia ser diferente?
Como poderia?
Se de cada vez que respiro, o faço também por ti, se de cada vez que sorrio, o faço também contigo, se de cada vez que choro, contigo o faço no pensamento.
Se de cada vez...
Se de cada vez que te procuro e não te vejo, sei bem que foi verdade, a crua realidade de uma despedida eterna.
Mas mesmo assim continuo a procurar, a questionar, a tentar reencontrar cada momento marcante nesse destino partilhado, desencontradamente preciso.
Poderia ter sido diferente?
Se calhar não...
Porque foi intensamente perfeito.
Amo-te, minha querida Mãe...
Filipe Vaz Correia