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Caneca de Letras

15.08.19

 

Se existir greve...

Aparece o Pardal!

Se não existe greve...

Aparece o Pardal!

Se não se cumpre os requisitos mínimos...

Aparece o Pardal!

Se existe uma câmara de televisão...

Aparece o Pardal!

Valha-nos Deus que o raio do Pardal está em todo lado, cansativamente em todo lado, como forma extenuante de levar ao desespero todos aqueles que não querem a “apardalada” agitação.

O senhor fala, exaspera, pragueja e atemoriza, vocifera ou acusa, numa promessa carregada de contradições.

O Governo e a Antram tentam desmontar as gritarias, as mesmas reivindicações que desnudam a razão, esses gritos surdos que se escondem, por entre, ruas e avenidas.

Detesto greves, esta não foge à regra...

Mas se tiver que lidar com ela, a greve, então que seja um “pombo” o interlocutor, um “canário” ou uma “avestruz”, no entanto, todos menos o Pardal.

Pois o que importa é o céu estrelado, as vozes hesitantes, os piquetes de greve intimidando quem se presta a trabalhar.

Tudo valeu a pena, naquele instante, naquela televisão, onde nada mais importava do que um Pardal à solta.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

15.08.19

 

O Filipe, num gesto generoso, pediu-me um texto para publicar No Caneca Com

Uma surpresa agradável, que me deixou sensibilizada.

Confesso, eu que nunca digo não a um desafio, tive medo. Medo de não corresponder às expectativas. Medo de escrever na página de alguém que tem o dom da escrita.

Escrevi uns tantos textos, nenhum me agradou. De repente, uma epifania!

Faz dia 18, 4anos, que meu pai partiu. Aproveito o desafio para homenagear um homem de letras numa Caneca de Letras.

 

Memórias

Apesar do sol estar meio envergonhado, entre nuvens acinzentadas, comprei uma revista e sentei-me na esplanada.

Ao abri-la, olhei, distraidamente, para a data. Uma nuvem, como a que encobria o sol, turvou-me a visão.

Faz hoje 4 anos que me privaste do teu sorriso doce e envergonhado.

Vieram-me à memória os momentos que partilhamos, as sonoras gargalhadas que soltavas, a tua voz a declamar Sophia, Pessoa e Mourão Ferreira.

Os almoços de domingo que se prolongavam pela tarde. Tinhas sempre qualquer história para me contar e simultaneamente tornar-me mais rica de saberes.

Recordo o teu escritório, onde sempre tão bem te sentias, rodeado de livros, jornais e revistas que lias sofregamente, e, se fosse fim-de-semana, tinhas ao lado um copo de whisky, que sempre te preparava seguindo a tuas instruções “dois dedos de whisky, água Perrier e 2 pedras de gelo.

A tua velha máquina de escrever ainda lá está. Ao lado, o portátil que a destronou e as canetas de tinta permanente que cuidadosamente enchias aos domingos.

Recordo as “aulas” que me davas de bem falar português. A insistência, quase obsessiva, com que dizias - o verbo haver nunca tem plural se for sinónimo de existir. Rio e frio são palavras dissilábicas, por isso tens de pronunciar ri-o e fri-o.

Continuo com dificuldades nas vírgulas. As vírgulas, o meu calcanhar de Aquiles. Nunca sei onde coloca-las (que pena estar desatenta quando me ensinaste). Assim, como dizias, abro a “caixinha” onde as guardo e deixo-as cair ao sabor da brisa.

Tal como no poema de Mourão Ferreira “Há de vir um Natal e será o primeiro em que se veja à mesa o meu lugar vazio”. Para mim esse Natal chegou, repleto de memórias. A ansiedade que em criança esperava que viesses da “repartição”, como dizias, para decorarmos a árvore, com bolas coloridas, fitas brilhantes e algodão a fingir a neve que o calor dos trópicos não tinha.

Olho em redor, solícito, o “garçon” (palavra que me ensinaste), aproxima-se. Ainda a pensar em ti e na tua paixão pela escrita, digoPor favor, uma caneca de letras”- as letras que tanto amavas misturar e transformar em poemas, ensaios e artigos para jornais olha-me admirado, responde, não temos.

Pode ser dois dedos de whisky, água Perrier e 2 pedras de gelo.

Saravá pai

 

Muito obrigada Filipe!

 

 

Maria

 

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