Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Caneca de Letras

Caneca de Letras

Costa E Sócrates: Ressentimento Ou Traição?

Filipe Vaz Correia, 31.08.19

 

Parece que José Sócrates irá usar o Jornal Expresso, deste sábado, para se indignar contra aquilo que sente ser um desprezo da parte do PS e de António Costa pela História do Partido, com particular atenção ao seu Governo de maioria absoluta.

Sócrates desabafa, por entre linhas, contra o que deverá sentir como uma traição de alguém que lhe sendo próximo, se afastou tacticamente.

Sócrates recorda a passagem de Costa pelo seu Governo, como número dois, recordando ainda a sua escolha para a Presidência da Câmara de Lisboa.

No meio de tanto ressentimento, Socrático, importa referir a parte de razão que assiste ao antigo Primeiro-Ministro, neste caso.

Não discuto o papel de Sócrates, enquanto Governante, já foi amplamente discutido, nem o seu papel do ponto de vista judicial, está neste momento em julgamento, apesar da convicção que sobrevive em todos aqueles que vendo de fora, sentem os meandros de tamanhas incongruências.

Enfim...

Costa que tantas vezes na Quadratura do Círculo fez saber da imensa amizade que o ligava ao anterior Primeiro-Ministro Socialista, foi dos primeiros a saltar para longe deste, quando o mesmo se tornou tóxico, num gesto taticista, próprio de sobreviventes capazes de tudo para se manterem à tona de água.

Julgo que os ratos se comportam da mesma maneira.

Sócrates está ressentido, talvez com razão, observando este reinado Socialista, intensamente obcecado em reescrever a História...

Por essa razão este artigo de Sócrates é importante, quanto mais não seja, para recordar a António Costa que a História não se reescreve, a não ser de forma rasurada, rasuradamente hipócrita.

E assim, entre amigos, cada um continuará certo da sua “verdade”, sendo que caberá aos Portugueses estarem atentos ao que dessa verdade resulta, como desenho comportamental e de carácter...

De Sócrates já se espera tudo, convém compreender o que se poderá esperar do sempre bonacheirão Costa.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

”Velho”

Filipe Vaz Correia, 30.08.19

 

Vai velho...

Vai velho que ainda caminhas, peixe sem espinhas pois os dentes já não ajudam, como se dentes ainda existissem, ao invés dessa dentadura meio gasta, que insiste em habitar na enrugada boca que vejo ao espelho.

Quem és tu?

Quem se mostra desse lado do reflexo de mim mesmo?

Os olhos sem cor, quase esbranquiçados, escondendo no fundo da alma a tristeza que um dia tomou conta, chegou de mansinho e se tornou presença insistente no dia a dia desesperançado do destino.

Vai velho que ainda aguentas com o fardo, mesmo que não fosse o tamanho fardo, maior do que a dor que se esconde em cada esquina, nessa ausência de rostos e cheiros, carinhos e palavras que foram desaparecendo com o tempo, levados por esse vento chamado vida...

Essa vida que brinda e arranca, que amarra e afasta, nos trespassa e beija.

Estou velho...

As mãos custam a fechar, as pernas a desinchar, os olhos a ver, o coração em parar de sofrer, nesse ardor ou viver que se aparenta com a angústia de um querer que escapou, esmoreceu, se perdeu por entre a incompleta vontade de sentir saudade.

Já não voltam as gargalhadas, nem as sentidas e emocionadas interrogações desse futuro por construir, correndo pela planície da alma, carregando os planos de um horizonte que não tardaria a vislumbrar.

A caneta a secar, as letras a escassear, por entre, as divagações de um velho poeta...

Estou velho...

Fechei a porta e deixei de sonhar. 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

Despedaçadamente

Filipe Vaz Correia, 30.08.19

 

Caiem as lágrimas

tão minhas;

Sobram as palavras

tão tuas,

Por entre solitárias

adivinhas,

Feridas ardentemente

nuas,

Num soluçar constante

que chega e arrepia,

Nesse viajar insistente

que despedaçadamente findaria.

 

Caminhando de volta a casa;

Sem ninguém para resgatar,

Cada momento outrora vivido,

Cada velho regatear,

Desse passado arrependido.

 

E em cada parte já descrita;

Fica essa espécie de sentir,

Que terminando ainda habita,

Em forma de sorrir,

De cada singelo instante,

Só nosso.

 

Não sobrou nada...

 

Somente este poema.

 

Alguém Me Encontra Um Otorrinolaringologista?

Filipe Vaz Correia, 28.08.19

 

De férias no Algarve, Monte Gordo, passando uns dias maravilhosos, senti o meu ouvido a estalar, água por lá encurralada, numa recordação da primeira otite que tive na vida, no ano passado...

Que chatice! Pensei.

Como sempre, tentei resolver o problema com uns “Whiskys” bem servidos ao serão e muito picante ao jantar, uma solução que vem da voz “avisada” de meu Pai que herdou esta receita, para todas as maleitas, de meu Avô e este de meu Bisavô e assim sucessivamente.

Não posso dizer que correu mal...

Mas também não posso dizer que tenha corrido bem.

Entre um momento e outro resolvi fazer o que as pessoas “normais” fariam, a conselho da minha querida Mulher, ligar para um hospital privado e tentar saber onde encontrava um Otorrinolaringologista.

Assim fiz...

Liguei para o Hospital Particular do Algarve, com várias unidades no Algarve, para o Lusíadas e para um outro que não me recordo do nome.

Resultado:

Não consegui encontrar nada e sinceramente como se aproxima o regresso a Lisboa, optei por não ir para as urgências do hospital de Faro, pois antevia que esperaria por lá com uma pulseira verde, talvez uma eternidade.

Mas o que achei mais engraçado, sem ter graça nenhuma, foi a resposta de uma das senhoras que me atendeu o telefone, no hospital particular do Algarve, com hospitais em Vila Real de Santo António, Loulé e Olhão...

Uma “querida” senhora, do hospital em Vila Real de Santo António, informou este vosso Canequiano de que não dispunha de Otorrinolaringologistas por esta altura, pois estávamos no Verão e estes se encontravam de Férias.

De Férias?

Sim, de Férias!

Claro está que entrei em curto circuito, a tentar processar a informação, questionando a “simpática” senhora se por acaso faria sentido os mesmos especialistas estarem a trabalhar no Inverno para a populosa concentração de pessoas que deverão habitar aquele lugar...

Enfim, a otite por cá continua.

Isto seria a mesma coisa, para dar um exemplo, que aliás dei neste inusitado telefonema, se a Confeitaria Nacional resolvesse não fazer Bolo Rei no Natal e Ano Novo, para passar a fazer no resto do ano.

Julgo que a senhora não percebeu ou se percebeu fingiu muito bem...

Mas não pude deixar de perceber, o drama que se vive por algumas terras no que toca à Saúde e às limitações por que passam estas populações, fora das grandes Metrópoles.

Meus queridos, vou só tratar de beber mais um Whisky, pois assim como assim, esta foi a única receita que me foi prescrita, tendo em conta que os Otorrinolaringologistas estão todos de Férias neste Verão Algarvio.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

Ensaio Poético Sobre Coisa Alguma...

Filipe Vaz Correia, 27.08.19

 

Sobe e desce sem parar;

Como se tratasse de uma montanha russa,

Num instante a viajar,

Por entre a entrelaçada angústia,

Nessa espera a esmagar,

O que sobrou da velha astúcia...

 

Sempre em busca desse encontro;

Desconhecido ou por saber,

Já descrito por reencontro,

Desencontrada forma de sofrer...

 

Sobe e desce sem parar;

Nessa estrada repleta de letras,

As palavras a soletrar,

As incertas partes de um poema.

 

 

Pág. 1/7