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Caneca de Letras

Caneca de Letras

O Sentido De Tamanho Sentir...

Filipe Vaz Correia, 20.01.19

 

Um texto leve, levemente destemido, para tocar a alma, como se alma fosse livre, independente dos traumas da infância, do lado infantil de todos nós, nossa forma de libertar o que magoa, magoando sem deixar marca visível, e que apenas nas entranhas da alma se mostra, religiosamente reaparecendo em cada noite, anoitecendo connosco, como se não bastasse esse pedaço de memória, para recordar os tamanhos pesadelos amordaçados, os silenciosos destinos subjugados, subjugando cada olhar perdido, ferido, ardendo para sempre, ardentemente descomposto na divina beleza de um texto.

Parecem desabafos rascunhados, rascunhos em forma de desabafo, como um grito do outro lado do Atlântico, numa mesa boémia, por entre o óculo de um qualquer poeta, embevecidamente enternecido por um velho whisky, aquecendo o desesperante sentido vazio de uma vida. Mas como se soltam as palavras, para numa fugidia frase se amarrarem aos destinos vividos, sem os viver. Quantas vidas foram precisas para expurgar tamanha vontade, numa asfixiante verdade que não cala? Quantas pinturas, em quantas telas, foram precisas para sarar as feridas e deixar voar as amarguradas, pequenas agruras, agigantadas?

Já não canta o velho "preto", nem a doce ama de leite, já não correm pelos campos, os que antigamente ali brincavam, os que outrora ousavam percorrer tais caminhos.

Um texto leve, tão leve como o doce sentido, de um antigo sentir que se perdeu...

Nas asas do vento, voltando o tormento, no bico de um pássaro.

Vai cumprindo o destino, as velhas promessas, sem tino, repetidamente desencontradas, buscando somente o sentido, de tamanho sentir.

 

 

Filipe Vaz Correia