Era uma vez...
Somente uma vez, tão distante como presente, marcante a cada recordação só minha.
Era uma vez um menino envergonhado, com medo de voar, escondido por entre a timidez que insistia em lhe corar as maçãs do rosto, em silenciar as palavras que abundantemente lhe preenchiam a alma, em toldar a vontade que dentro dele pulsava.
Era um mundo novo, tão novo como assustador, tão intenso como desafiador, tão só dele.
Esse mundo repleto de fantasmas e receios, incitava a alma para um pincelar na tela em branco, escolhendo as cores que preencheriam todo um olhar de esperança que apenas a ele pertencia...
Esperanças e medos, rostos e expressões, desejos que se cumpriam apenas na imaginação.
Faltava o som dessa esperança, calada e sincera, impregnada de palavras que jamais se poderiam ignorar...
E foi caminhando o tempo, temporalmente confuso, transformado num irrequieto continuar do destino, destinadamente incompleto.
Até ao dia...
Esse dia já noite, essa noite sempre presente no meio de um mar de gente, carregando vozes e rebuliço, reencontrando essa alma que sempre lhe pertenceu.
Pois só dele poderia ser aquela alma, aquele singelo desencontrar com um encontro, há muito, descrito nas estrelas.
Passo a passo, palmilhando os dias e noites que se cumpririam em longos anos, se moldou o singelo olhar, se emocionou o desamparado coração, se compreendeu o que parecia incompreensível.
A viagem de uma vida, escondida por entre tantas, que vividas pareceram curtas e que recordadas sem memória, pareceram tão imensamente nossas.
Era uma vez, somente uma por entre tantas...
Por entre tantas que não consigo descrever, descrevendo num só gesto a imensidão de tamanho amor.
E continua a viagem...
Sempre contigo a meu lado.
Filipe Vaz Correia