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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Sotaques...

Filipe Vaz Correia, 03.09.17

 

É impressionante como certas coisas mexem com o nosso imaginário, com as nossas memórias, as mais felizes, as mais escondidas dentro de nós.

Como já aqui escrevi passei férias em Monte Gordo, local aonde volto ano após ano, há décadas, onde me sinto feliz repetindo os mesmos sitios, jantando nos mesmos restaurantes, reencontrado caras familiares...

Os mesmos toldos de praia, as mesmas vozes, os mesmos rituais.

No meio de tamanhas recordações, resgato sempre ali em terras Algarvias, uma parte do meu Alentejo, deste Alentejano, desta criança que um dia fui, sendo eternamente o mesmo...

A praia de Monte Gordo, nesta altura do ano, é invadida por famílias Alentejanas, gente boa como tantas vezes ouvi à mesa de jantar, meus Pais e Tios afirmarem, gente nossa como em tantas e tantas ocasiões, senti na vida.

É ali nesta mistura de raízes, que este Alfacinha se mistura com a alma Alentejana que sempre em mim morou, parecendo por momentos, regressar aos tempos onde corria no Monte de meus Avós, de capote e botas alentejanas, por entre o sonho de uma bela popia caiada...

Nem posso falar de popias caiadas, sem que uma lágrima me invada, nessa saudade, intrinsecamente pessoal.

Num dos meus regressos a Lisboa, há anos atrás, num café na Mimosa, encontrei abandonadas, numa prateleira empoeirada as minha popias caiadas, tradicionais, feitas em Panoias, comprei todas, amarrando-as a essas imagens que infelizmente já não existem.

No entanto, voltando a Monte Gordo e à sua deslumbrante praia, reencontro sempre naqueles toldos, por entre aqueles rostos, aquele sotaque que também é meu...

Também me pertence!

E num instante, num segundo intemporal, ano após ano, recupero o meu sotaque Alentejano, serrado, orgulhosamente assente nos antepassados que fazem de mim aquilo que sou...

Neste meu lado Alentejano recupero o rosto de minha Mãe, os desejos de meus Avós e de tantos mais, que no meu sobrenome sobrevivem.

Sinto-me Alentejano novamente, sem nunca ter deixado de o sentir, de o recordar, mas verdadeiramente, ali recupero uma parte de mim, que certamente sorri...

Através de uma felicidade inesquecível, de uma época, infância, que felizmente vivi.

Foi minha! 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Pedaço Despedaçado...

Filipe Vaz Correia, 02.09.17

 

 

 

Libertem-me das amarras;

Soltem-me destes gritos que me perseguem,

Arranquem os grilhões que me aprisionam,

Apaguem as imagens que me atormentam,

Tirem dentro de mim os olhares despedaçados,

Os pedaços de gente esventrados,

As almas desalmadas,

Que enfim se encontravam perdidas,

Naquelas estradas,

Reféns do seu destino...

 

Pedaços de gente;

Despedaçados...

 

Despedaçados;

Pedaços de gente...

 

Caminhei sem parar;

Olvidei sem olvidar,

Ousei continuar,

Deixando para trás,

O meu coração...

 

Viajando no meio da poeira;

Da cinzenta tristeza tão minha,

Vendo mortos na fogueira,

Num fogo interminável...

 

Fugi desse terror;

Mas aprisionado a cada um,

Daqueles que comigo se cruzaram,

Ali ficou também,

Um pedaço despedaçado,

De mim.

 

 

 

A Justiça E O Youtuber!

Filipe Vaz Correia, 02.09.17

 

A justiça Portuguesa está no youtube...

José Sócrates resolveu elevar o patamar de despudor da Justiça Portuguesa, e aqui será porventura o único pressuposto onde ouso afirmar, que Sócrates está inocente.

O caso Sócrates deveria ser exemplar, já se percebeu que não o será, deveria ser inatacável, já compreendemos que será impossível esperar este tipo de tratamento, deveria ser irrepreensível no tempo e no seu julgamento, adivinhamos que será precisamente o seu contrario...

E é aqui que ganha força a defesa do anterior Primeiro Ministro, nesta confusa divulgação de factos, de decisões, de vozes.

Agora encontramos a justiça espalhada no youtube, com um youtuber arguido, meio injustiçado, aguardando que aqueles que o acusaram, se apresentem com a acusação, pois não será tolerável que esta não seja apresentada.

O instinto Sócratiano, inteligente e perspicaz, deve aconselhar este tipo de aproveitamento, da demora judicial daqueles que ousaram apontar o dedo, independentemente desta demora ser também um infeliz contributo para o descrédito do sistema judicial.

O que envolve José Sócrates e todo o esquema alegadamente investigado pelo Ministério Publico, é por si só intrigante, indiciador de condutas suspeitas e pouco aceitáveis, no entanto, a própria Justiça parece temporalmente compactuar com a estratégia da defesa, permitindo até a legitimidade de quem se recorre das redes sociais, para debater o seu próprio caso...

Nunca imaginei que se poderia debater um processo judicial na praça publica, infelizmente há algum tempo me apercebi do contrario, porém, jamais imaginei esta tipo de defesa youtuber, empreendida por José Sócrates.

Assim vai a triste Justiça Portuguesa e os seus segredos, sendo que no meio de tamanha confusão, ainda tenho a esperança que no fim, todos possamos acreditar que se fez justiça...

Justiça.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

Os Fantasmas de Cavaco Silva!

Filipe Vaz Correia, 01.09.17

 

A visita de Cavaco Silva à Universidade de verão do PSD, resumiu-se a uma meia dúzia de desabafos, enigmas justificativos numa mente embrenhada, nos pensamentos meio enevoados de um homem cansado, zangado, ressabiado.

De todas as suas palavras, das muitas que me esforcei por descodificar, apenas uma referência me indignou, visto que a considero absolutamente injustificada...

As indirectas a Marcelo.

Não que o Presidente da República precise de defesa, pois imediatamente respondeu com elegância, trato e dimensão à altura da sua inteligência e perspicácia, no entanto, não deixaram de me incomodar.

A diferença entre os dois é gigantesca, pois é, essa mesma diferença deve incomodar o anterior Presidente Português, pois deve, e acima de tudo a ligação profunda que Marcelo construiu com as pessoas, deve deixar verdadeiramente enfurecido, o eterno não político português...

Acima de tudo isso.

Cavaco Silva vê-se como um estadista, um oráculo de certezas inquestionáveis e a forma como terminou a sua vida política deve de certa maneira, confundir as certezas solidificadas dentro da pequenez, que o seu ego contempla.

Esta forma de critica, pouco frontal, até cobarde, escondida por trás de narrativas confusas, apenas confirma a relativa saloiice do personagem, o mundo pouco colorido da pessoa em questão.

Marcelo prima por ser hiperactivo, por vezes até frenético, nos actos, nas palavras, mas tem desempenhado o seu papel de maneira absolutamente formidável, aportando classe à Instituição, trazendo consigo Humanismo, proximidade, elevando o nível a que estávamos habituados no exercício desta função.

Cavaco com a sua habitual falta de chá, bebida certamente desconhecida para o personagem, tentou naquele lugar fazer um ajuste de contas com Marcelo, não entendendo que essencialmente o que todos conseguiram vislumbrar com estas suas palavras, foram os fantasmas que o circundam, atormentam...

Enfim ensombram, a memória majestática que guarda de si mesmo e que apenas o seu circulo mais próximo poderá corroborar.

Acima de tudo, recordou-nos dos tempos empoeirados da sua Presidência.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

Amnésia...

Filipe Vaz Correia, 01.09.17

 

 

 

Será que me recordo;

Ou me esqueci de recordar,

Será que ainda resiste essa recordação,

Recordada emoção,

Deslumbrada desilusão,

Esquecida ilusão...

 

Será que faz sentido;

Ou sentes o que dizes,

O que dizendo magoa,

O que magoando,

Para sempre fica...

 

Será que ainda pulsa em ti;

O que em mim parece adormecer,

Será que adormeceu em nós,

O que parecemos perder...

 

Será que é interminável;

O que terminando sobrou,

Sobrando tão pouco,

Do que eternamente sonhou,

Aquele coração...

 

 

 

 

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