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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Centeno ou Sem Tino?

Filipe Vaz Correia, 17.02.17

 

 

Não consigo mais ver, nem ouvir em todos os jornais e televisões, esta polémica dos SMS e Emails entre o Ministro Centeno e o ex- Presidente da Caixa...

É inacreditável, na conjuntura actual, como a política portuguesa atingiu o seu grau zero de despudor e desinteresse.

Centeno é na minha modesta opinião, um bom técnico, ou seja, deve saber somar e subtrair, sabendo encontrar os respectivos símbolos na máquina de calcular, o que comparado com os seus antecessores, pelo menos na última década, é uma evolução a todos os títulos considerável.

No entanto, a sua habilidade política, é totalmente inexistente, desencontrada com a realidade, o que lhe provoca e tenho a certeza provocará, problemas suficientes para permitir a existência de inúmeros folhetins nos mais variados meios de informação portuguesa.

Vejamos bem, no quadro político actual, encontramos o PSD e o CDS indignados por um Ministro da República ter mentido numa comissão de inquérito...

A sério?

E vemos o PCP e o Bloco, acompanhando o PS nesta defesa sem quartel da dignidade e privacidade do Ministro...

O que diriam estes partidos se o Ministro se chamasse Gaspar ou Portas?

E se por alguma razão os partidos no poder fossem outros e lhes fosse negado, numa comissão parlamentar, o acesso a documentos que eles considerassem importantes para o seu esclarecimento...

Lá viria a palavra censura ou mesmo o Prof. Salazar para a actualidade, demonstrar que estávamos novamente a caminhar para outros tempos, noutro século.

Todos, sem excepção, se comportam de maneira oportunista, desmentindo com os seus posicionamentos, atitudes que já tomaram no passado e que voltariam a tomar, caso os papéis estivessem invertidos.

Vergonhosa incoerência.

Para mim, a questão dos SMS é verdadeiramente irrelevante, pois preocupa-me muito mais saber, para onde foram os Milhões em empréstimos que levaram a Caixa à beira da insolvência.

Quem são esses principais devedores e quem foram os administradores, nomeados pelo Estado, que aceitaram tais empréstimos?

Como serão aplicados os valores, nesta recapitalização da Caixa, ou seja, o dinheiro de todos nós, contribuintes?

Saber e discutir, qual a razão para a crescente onda de assaltos e insegurança que tem tomado conta do país?

Questionar o Governo sobre quais os dados e os estudos que levaram à tomada de decisão do novo Aeroporto de Lisboa, naquele local e não noutro?

Saber ainda qual o caminho que devemos percorrer, para ao mesmo tempo que diminuímos o déficit, podermos aproveitar o aceleramento da nossa economia, convencendo de vez, as temidas agências de Rating?

Mas isso pouco importa...

O que importa verdadeiramente para o país mediático, são os SMS de Centeno e a descoberta do microfone da CMTV!

E assim com Centeno ou não, sobra-nos a certeza de que continuaremos a caminhar sem tino, trica após trica, por entre este reality show de baixa qualidade, que se tornou a política e algum jornalismo, em Portugal.

 

 

 Filipe Vaz Correia

 

O Mundo de Cavaco!

Filipe Vaz Correia, 17.02.17

 

O Prof. Anibal Cavaco Silva, fez parte da minha vida, quase desde que me lembro de mim mesmo, para o bem e para o mal, nesse destino que se tornou, o destino deste país que somos nós.

Ao publicar o seu livro, muitos o vieram aplaudir e outros tantos atacar, pelo conteúdo do que alguns chamam de testemunho e outros uma vingança contra o anterior Primeiro-Ministro, José Sócrates...

Antes de mais julgo que Cavaco Silva tem o direito, de publicar a sua opinião sobre factos que viveu em Belém e que considerou serem importantes para o julgamento da sua Presidência, mesmo que possa ficar uma sensação de vendetta, em alguns momentos.

Cavaco nunca foi um homem consensual, apesar de ser um dos políticos que mais eleições venceu, cinco, quatro delas com maioria absoluta:

Duas vezes como Primeiro-ministro e duas vezes para a Presidência da República.

Cavaco para mim, representa duas palavras:

Encantamento e desilusão.

Na minha perdida juventude, eu era aquilo que se poderia chamar de cavaquista, ou seja, acreditava piamente que o seu trabalho em prol do país era fundamental para o nosso desenvolvimento e que a sua capacidade de liderança, nos dois governos maioritários, iria mudar para sempre o rumo de Portugal...

Vendo agora, continuo a achar que foi um bom Primeiro-Ministro, com erros que antes não era capaz de perceber, mas na realidade, escrever a história décadas depois de ela ocorrer, é injusto e pouco sério.

Tive pena quando chegou ao fim aquela década cavaquista e apressei-me a votar naquelas que foram as minhas primeiras eleições como cidadão...

Cavaco perdeu para Sampaio e desgostosamente enfrentei essa primeira derrota, de alguém que julgava invencível.

Os anos passaram e chegámos então às eleições de 2006 e a essa nova candidatura de Cavaco Silva, e uma vez mais, acreditei que através das suas qualidades, poderia ajudar o país a crescer e melhorar através da sua influência, resgatando talvez, a memória que guardava dessa minha adolescência.

E é neste período que encontro a chamada desilusão, pois as qualidades que encontrei durante aqueles anos, reformistas e de mudança, de estabilidade e seriedade, davam agora lugar, na minha opinião a um desgastante, amorfo e penoso caminho de inabilidades.

Cavaco perdeu-se assim como o país, em gaffes e ficções, em ausências e penosos discursos desconexos, em erros de cálculo e batalhas inadequadas...

Foi para mim, com a da sua falta de empatia e equivoco verbal, uma desilusão, observando o seu afundar colado a políticas que não creio, estivessem na sua matriz de centro direita.

Julgo que se afundou amarrado ao establishment do ultra liberal PSD e quado a geringonça lhe apareceu pela frente, com aquele truque parlamentar, deveria ter compreendido como ele mesmo, com os seus silêncios, ajudou a unir o que jamais se unira, a convergir aqueles que até então, apenas divergiam...

O PS e os partidos mais radicais da esquerda parlamentar.

Foi esse extremar de posições e a sua inabilidade para criar dentro do panorama político português as pontes necessárias, que acabaram por juntar esses partidos, numa coligação anti-natura.

Esta desilusão Presidencial, afastou-me desse passado, desse cavaquismo, desse legado que não renego mas vejo de maneira menos apaixonada e distante.

Assim neste dia, acredito que através do seu testemunho, poderemos conhecer melhor o seu ponto de vista, sobre alguns dos factos que decorreram durante os anos que nos guiaram até à Troika e mais tarde até à geringonça, mas não creio que consiga reverter a imagem titubeante e desastrada com que terminou os seus mandatos.

Para mim fica este dúbio sentimento...

De respeito por esse passado e por esse percurso de tantas décadas de vida pública mas também a tristeza e desilusão pela inaptidão e constrangedora falta de empatia com o país real, que certamente ficarão na história por mais que Cavaco Silva não o consiga aceitar.

 

Obrigado Prof. Cavaco Silva e que venha o segundo volume.

 

 

 Filipe Vaz Correia