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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Os Meninos do Mediterrânio...

Filipe Vaz Correia, 28.02.17

 

A Unicef, divulgou um relatório, onde revela que durante 2016 morreram no mediterrâneo, perto de 700 crianças, nessa fuga migrante de miséria e desgraça...

700 crianças.

Diante destes números é impossível não sentir, a vergonha imensa perante o desenlace encontrado, por estas pequenas vidas, cheias de esperança e de desespero, misturado nesse imperioso desejo, de encontrar um local seguro para sonhar.

Não existe revolta suficiente para descrever esta tragédia, não existe raiva suficiente para contar tal destino, não existem palavras suficientes para gritar ao vento, que naquele mar, cemitério, aqueles meninos se transformaram em despojos da humanidade...

Apenas sobeja a tristeza silenciosa, envergonhada, derrotada, naqueles que possuem coração e que sentem através dele, que nada, poderia ser tão cruel.

É aqui que cada um de nós, poderá fazer o pequeno exercício, de olhar à nossa volta, de fechar os olhos por um instante e pensar em algum menino ou menina, que nos seja querido, nos seja próximo...

Pegar nessa imagem e levá-la através das nuvens que atravessam os pesadelos, os receios e transportá-la até àquele mar, àquela praia, onde repousam tantas crianças sem vida...

Mudar o rosto desses desafortunados, despejados de esperança e imaginar que são os nossos, as nossas crianças.

Nesse momento talvez sintamos, o quão impossível será viver aprisionado por esse horror que provavelmente se repetirá enquanto leem este artigo...

E o mundo continua, continuará, relatório após relatório, a lamentar, a escrever, como aqui faço, mas verdadeiramente a esquecer estes pedaços de destino, abandonados à sua sorte.

Como é triste, tristemente imaginar, o rosto de Deus...

Esse Deus de todos nós, que talvez complete com as suas lágrimas, aquela imensidão de água que forma esse mar, com esse nome...

Mediterrâneo!

Que Deus vos proteja, meninos do mediterrâneo, porque a Humanidade não o fará.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

Intensamente...

Filipe Vaz Correia, 28.02.17

 

Amar perdidamente;

Sonhar permanentemente,

Descobrir desesperadamente,

Querer insistentemente,

Esse desejo que tresloucadamente,

Habita em mim...

 

As palavras nunca ditas;

As vontades interditas,

As cartas que não foram escritas,

Perdidas, sem retorno...

 

Os ventos que não chegaram,

Os momentos que escaparam,

Os sentimentos que passaram,

Os sofrimentos que me sobraram,

Sem nunca me esquecer, de ti...

 

As memórias perdidas,

As história nunca vividas,

As emoções esquecidas,

No meio de tantas feridas,

Que ainda não sararam...

 

E assim continuo a caminhar;

Sem saber como explicar,

Esse amor que sem parar,

Arrebata a intensa esperança,

Da minha alma!

 

 

Pijamas Riscados...

Filipe Vaz Correia, 27.02.17

 

Sempre que via um comboio partir;

Imaginava esse mundo,

Descobrindo sem fugir,

Esse longínquo e profundo,

Desejo de sentir,

O meu ausente destino...

 

Sempre que abriam os portões;

Daquele campo maldito,

Imaginava os corações,

Daqueles interditos,

Olhares que me fugiam,

Dos que um dia amei...

 

Sempre que chegava o amanhecer;

Desconfiado caminhava,

Querendo adormecer,

A esperança que em mim habitava,

De que podia ser diferente...

 

E seguindo amordaçado;

Amordaçando a alma já cansada,

Presa nesse corpo desanimado,

Naqueles pijamas riscados...

 

E assim a cada partida;

A cada fuga perdida,

Em cada dia, ferida,

Até que chegou a minha vez...

 

E aí descobri que me haviam roubado tudo;

Mas apenas eu, 

Era o dono da minha alma!

 

 

 

 

 

 

 

Porquê?

Filipe Vaz Correia, 27.02.17

 

Porque tenho de ceder;

Porque devo esmorecer,

Porque devem em mim desaparecer,

Essas memórias amarguradas,

De vidas já esquecidas,

Mágoas passadas,

Noites perdidas,

Amarradas,

A tamanhas feridas,

Que ainda doem...

 

Porque devo responder;

Porque tenho de esquecer,

Porque sou obrigado a sorrir;

Se esta dor aqui permanece,

Nessa lágrima a ferir,

Que não adormece,

O meu imenso sofrer...

 

Porque não posso gritar;

Gritando intensamente,

Libertando sem parar,

Essa voz que desesperadamente,

Me insiste em sufocar,

Sufocando insistentemente,

A vontade de resgatar,

 As ilusões que invadiram a minha alma...

 

Sobrando enfim;

Tantas palavras,

Para descrever a minha história,

Ficando apenas este poema,

Para guardar nessa memória,

Esquecida pelo tempo...

 

Por esse tempo,

Que não consigo descrever!

 

 

 

 

 

 

Tejo!

Filipe Vaz Correia, 26.02.17

 

 

Deitado aos pés de Lisboa;

Gaivotas como companhia,

Almas e pessoas,

Caminhando e voando,

Contemplando a sua imensa beleza...

 

Cruzando as margens desta cidade;

Empurrando o tempo para a frente,

Amarrando a saudade,

Sempre presente,

Neste destino tão português...

 

Refletindo como um espelho;

As amarguras presas ao céu,

As gotas de chuva caindo,

Irrompendo esse véu,

Tão secreto, deslumbrante...

 

Intensamente guardadas;

As lágrimas desses navegadores,

Que em vidas passadas,

Viagens anteriores,

Daqui partiram,

Com essa esperança de um dia regressar...

 

E assim, tantas vidas neste rio;

Histórias refletidas em cada um de nós,

Nesse intenso corropio,

Segredando nessa voz,

Secretamente o seu nome...

 

Tejo!

 

 

 

 

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