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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Noémia...

Filipe Vaz Correia, 31.01.17

 

Tenho-te do outro lado do mundo;

Um oceano que nos separa,

E que guarda este desgosto profundo,

Esta dor que ninguém pára...

 

Tantas vezes sem te ver;

Sem poder contigo falar,

Sem de ti poder saber,

E esta dor partilhar...

 

Sinto-me só, desamparada;

Muitas vezes, até perdida,

Grito só e angustiada,

Nesta minha, triste vida...

 

Triste sim, desesperada;

Vendo a vida, a partir,

Muito tempo aqui sentada,

Sem saber como reagir...

 

Fazes-me falta, minha filha;

Escondida nessa distância,

Encarcerada nessa ilha,

Cheia de cor e de fragrância...

 

Assim te tenho aguardado;

Ternura minha,

Meu amor,

Nesta terra, neste fado,

À espera que o nosso desencontro,

Seja apenas encontrado!

 

As Crianças de Mossul!

Filipe Vaz Correia, 31.01.17

 

Em Mossul, no Iraque, estão neste momento 350 mil crianças encurraladas, numa cidade cercada, à mercê do Daesh ou de artilharia pesada da coligação nesta batalha sem honra que já dizimou Milhões de pessoas.

O mundo está de facto perdido...

Ao ouvir esta notícia, admito que tive de a rever para acreditar e não pude deixar de me questionar se algum dia, aprenderemos algo com os ensinamentos da história.

O que poderá ser mais importante, do que, este facto?

O que poderá valer mais a pena, do que, estas 350 mil crianças...

350 mil!

Mais ou menos a população de um país como a Islândia.

O que mais me aterroriza, é que no quadro político, populista, do mundo de hoje, parece que existem valores superiores a um drama como aquele que se vive em Mossul...

Muros e expulsões, raças ou religiões, ocupam hoje as prioridades desconexas deste novo tempo, transformando-se aos olhos de muitos, como as razões para as clivagens existentes nas mais variadas sociedades ocidentais.

No entanto, não consigo parar de pensar naqueles meninos e meninas aprisionados em Mossul:

Fechem os olhos e imaginem um prédio escuro, sem eletricidade, numa noite fria numa ponta do Iraque...

Imaginem os olhos temerosos de cada um daqueles meninos, enquanto as bombas caem, enquanto as carrinhas do Daesh varrem a cidade e estas crianças escondidas, perdidas, tentam respirar...

Tentam sobreviver.

Não existe política sem esperança, sem humanismo, sem futuro e que futuro estaremos a construir deixando estas pequenas pessoas de amanhã, abandonadas e entregues ao nada...

Ao desesperante medo de morrer.

Quero acreditar que será possível ter esperança e que como nos filmes, existirá sempre um final feliz, no entanto, olhando para o ecrã da minha televisão, começa a ser difícil...

Mas continuo a acreditar.

Que Deus vos proteja, Meninos de Mossul.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Esperança...

Filipe Vaz Correia, 31.01.17

 

Senhora Dona Esperança;

Já não a vejo faz tempo,

Desde que era criança,

E não entendia o sofrimento...

 

Esperança vã do meu coração;

Curiosa e sem maldade,

Que um dia virou ilusão,

De uma enorme saudade...

 

Esperança maldita, infeliz;

Que busco sem te encontrar,

Num caminho que sempre quis,

Sem saber como caminhar...

 

Esperança, guardada em meus olhos;

Esses que me fazem chorar,

Por tudo o que à volta vejo,

E sofro sem falar...

 

Esperança escondida, emboscada;

Cercada por tantas mentiras,

Que não consegues ser achada,

No meio de tantas feridas...

 

Esperança, não te quero perder;

Quero agarrar-te com a minha alma,

Prender-te sem sofrer,

E amar-te eternamente...

 

E se um dia te encontrar;

Esperança que me fazes sonhar,

Juro nunca deixar,

De te sorrir, ao acordar...

 

 

Gaiola Dourada...

Filipe Vaz Correia, 30.01.17

 

Cada casa, uma gaiola;

Cada vida, enjaulada,

Numa preciosa esmola,

Meio desencontrada,

Em que se transformou esta vida...

 

De manhã para o trabalho;

À tarde sempre a correr,

Nessa lotaria a retalho,

Sem pensar ou viver...

 

Sem tempo para desfrutar;

Do amor, de uma amizade,

Nesse vento que tarda a chegar,

Pejado de uma saudade,

Daqueles que um dia partiram...

 

Traiçoeiro destino;

Eterna competição,

Compassadamente desatino,

Nesse imenso turbilhão,

Engolindo sem razão,

Os que já não sentem a ilusão,

De viver...

 

Cada gaiola dourada;

Cada vida nela,

Aprisionada,

Cada passo,

Caminhada,

Rumo ao desconhecido...

 

E assim, acabados de nascer;

Se passou a correr,

Essa vida sem dizer,

Se na hora de morrer,

Terá verdadeiramente, valido a pena...

 

A minha gaiola dourada!

 

 

 

Sem-Abrigo...

Filipe Vaz Correia, 29.01.17

 

Porque te chamam sem-abrigo?

Velho que já foste criança,

Só porque não tens um amigo,

E perdeste essa esperança...

 

Esse vazio no teu olhar;

Esse desespero no teu rosto,

Tantas mágoas a contar,

Uma vida de desgosto...

 

Pesadelos sem pudor;

Disfarçando embriagado,

Recordando um amor,

Que ficou preso nesse passado,

Que atormenta sem parar...

 

Já não volta, não regressa;

Esse tempo que te restou,

A essa história já perdida,

Nesse coração que um dia, amou...

 

E por isso, bem agasalhado,

Entregue às ruas despidas,

Por entre um frio, bem gelado,

Tentando esquecer essas feridas,

Que te deixaram,

Sem-Abrigo!

 

 

 

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