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Caneca de Letras

30.08.19

 

Vai velho...

Vai velho que ainda caminhas, peixe sem espinhas pois os dentes já não ajudam, como se dentes ainda existissem, ao invés dessa dentadura meio gasta, que insiste em habitar na enrugada boca que vejo ao espelho.

Quem és tu?

Quem se mostra desse lado do reflexo de mim mesmo?

Os olhos sem cor, quase esbranquiçados, escondendo no fundo da alma a tristeza que um dia tomou conta, chegou de mansinho e se tornou presença insistente no dia a dia desesperançado do destino.

Vai velho que ainda aguentas com o fardo, mesmo que não fosse o tamanho fardo, maior do que a dor que se esconde em cada esquina, nessa ausência de rostos e cheiros, carinhos e palavras que foram desaparecendo com o tempo, levados por esse vento chamado vida...

Essa vida que brinda e arranca, que amarra e afasta, nos trespassa e beija.

Estou velho...

As mãos custam a fechar, as pernas a desinchar, os olhos a ver, o coração em parar de sofrer, nesse ardor ou viver que se aparenta com a angústia de um querer que escapou, esmoreceu, se perdeu por entre a incompleta vontade de sentir saudade.

Já não voltam as gargalhadas, nem as sentidas e emocionadas interrogações desse futuro por construir, correndo pela planície da alma, carregando os planos de um horizonte que não tardaria a vislumbrar.

A caneta a secar, as letras a escassear, por entre, as divagações de um velho poeta...

Estou velho...

Fechei a porta e deixei de sonhar. 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

27.08.19

 

Sobe e desce sem parar;

Como se tratasse de uma montanha russa,

Num instante a viajar,

Por entre a entrelaçada angústia,

Nessa espera a esmagar,

O que sobrou da velha astúcia...

 

Sempre em busca desse encontro;

Desconhecido ou por saber,

Já descrito por reencontro,

Desencontrada forma de sofrer...

 

Sobe e desce sem parar;

Nessa estrada repleta de letras,

As palavras a soletrar,

As incertas partes de um poema.

 

 

14.08.19

 

Não peças desculpa, nessa meia culpa que invade, essa desculpa que serve de justificação para a culpada consciência, a desmedida irreverência com que se quebrou o laço, esse antigo abraço extinto no meio do fogo de tamanha raiva, tamanha desilusão.

Um ponto...

Meio ponto...

Ou ponto nenhum, pouco importará, nessa janela que se trancou, nesse despir de um sentir que outrora simplificava o olhar, segredava nessa esperança amarrada ao tempo, descodificando o sentimento que aquecia a alma.

A doce alma, a triste alma...

Não peças desculpa, se essa culpa que corrói é maior do que o retrato desse futuro que não chegará, se esse passado escondido no tempo, já não permitir outro sonho, o mesmo sonho, aquele sonho um dia sonhado.

Nesse abraço, regaço, que tantas vezes nos pertenceu, foi nosso, só nosso, moram aquelas memórias tão belas, únicas, que unidas completavam o enigma imperceptível de tantas vidas.

Não peças desculpa nem busques perdão, pois o coração deixou de sentir que valia a pena.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

21.06.19

 

 

 

Palavras ao vento, num singelo momento, entrelaçando num instante esse perder constante que se assemelha na verdade com essa saudade, esquecida querença esvaída esperança, somando estranhezas, por entre as confundidas certezas, de mansinho soletradas, explicando as emoções sussurradas de uma vida. Palavras ao vento marcando um tempo, secreto segredo, disfarçando o medo que reluz no horizonte para lá de um monte, onde se esconde o sonho, outrora risonho e que agora... Agora permanece irrequietamente provocador, sem macula, sem dor, insistindo através do olhar nesse sentido amar descrito nos livros. Palavras ao vento, misto de arrependimento, sincera vontade de um tristonho sentimento, por entre perdido sentir, ameaçando fugir nesse breve abraçar que nos esmaga. Palavras ao vento, sempre elas, contando sem receio cada partícula segredada de um imenso querer. Como te quero? Quanto te quero?

Palavras ao vento celebrando este amor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

19.04.19

 

Existem palavras pequenas que carregam consigo desmedidos pensamentos, outras gigantes que, mesmo assim, não conseguem medir a dimensão de um querer...

Existem frases curtas, intensamente envergonhadas, que entrelaçam vontades, sinceras saudades, sem tamanho.

Outras frases mais alongadas, carregadas de vírgulas, disfarçando, sem querer, o sentir tão preciso, ao mesmo tempo conciso, num longo abraço de querença ou desesperançada esperança.

Existem palavras silenciosas, timidamente perdidas, por entre, silêncios, palavras nunca ditas ecoando mais longe do que gritos anunciados...

Porém, existem outras palavras ruidosas, que vociferadas à distância, conseguem imensamente amarrar toda a expressão de um singelo instante.

Somente palavras, sempre palavras, numa enlaçada pintura...

Umas vezes quente, outras gélida, pincelando com beleza, porventura crueza, os destinos que nos constroem...

Numa desconstrução que insiste em desnudar o sentido das coisas.

Por vezes amar é simplesmente isso...

Uma espera ausente de palavras sentidas, num desencontrado querer que nos amarra.

Amo-te!

Está dito.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

20.01.19

 

Um texto leve, levemente destemido, para tocar a alma, como se alma fosse livre, independente dos traumas da infância, do lado infantil de todos nós, nossa forma de libertar o que magoa, magoando sem deixar marca visível, e que apenas nas entranhas da alma se mostra, religiosamente reaparecendo em cada noite, anoitecendo connosco, como se não bastasse esse pedaço de memória, para recordar os tamanhos pesadelos amordaçados, os silenciosos destinos subjugados, subjugando cada olhar perdido, ferido, ardendo para sempre, ardentemente descomposto na divina beleza de um texto.

Parecem desabafos rascunhados, rascunhos em forma de desabafo, como um grito do outro lado do Atlântico, numa mesa boémia, por entre o óculo de um qualquer poeta, embevecidamente enternecido por um velho whisky, aquecendo o desesperante sentido vazio de uma vida. Mas como se soltam as palavras, para numa fugidia frase se amarrarem aos destinos vividos, sem os viver. Quantas vidas foram precisas para expurgar tamanha vontade, numa asfixiante verdade que não cala? Quantas pinturas, em quantas telas, foram precisas para sarar as feridas e deixar voar as amarguradas, pequenas agruras, agigantadas?

Já não canta o velho "preto", nem a doce ama de leite, já não correm pelos campos, os que antigamente ali brincavam, os que outrora ousavam percorrer tais caminhos.

Um texto leve, tão leve como o doce sentido, de um antigo sentir que se perdeu...

Nas asas do vento, voltando o tormento, no bico de um pássaro.

Vai cumprindo o destino, as velhas promessas, sem tino, repetidamente desencontradas, buscando somente o sentido, de tamanho sentir.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

05.01.19

 

 

 

Porque faz sentido a poesia?

Essa mistura de letras e palavras,

Voltando como maresia,

Num agigantar da alma,

Desesperada por um sentir,

Que mesmo fugaz,

Se imortalize...

 

Se torne intemporal;

Como o olhar de uma mãe,

Como a brisa do verão,

Um abraço desmedido,

Aquecendo o coração...

 

A poesia é beijo;

Ou um escondido desabafo,

Um intenso desejo,

Que não cala...

 

A poesia é um pedaço de tudo;

Um eco de nada,

Uma tela do mundo,

Uma voz retratada...

 

A poesia é enfim;

Uma beleza sem fim.

 

 

 

25.09.18

 

Escrever uma carta nem sempre é fácil, ficando pelas entrelinhas, tantas vezes, letras perdidas, palavras meio feridas e moribundas ideias que permanecerão soltas por entre o papel.

A cada linha se encontram virgulas e "entretantos", desconexas vontades...

Em cada parágrafo uma mudança de linha que nem sempre representa uma mudança de texto, de sentir, de querença.

Por entre a tinta que acarinha cada palavra se entrelaçam gritos e silêncios, memórias e saudades, jamais desnudadas por completo.

A complexidade de escrever uma carta, quando ela se pinta da mesma cor da alma ou segreda o que habita no coração, será esse desvendar do Ser, esse despir da tímida alma.

Num abraço em forma de desenho ou num carregado adeus desenhadamente derradeiro, se perde a temporalidade que se transformará nessa intemporal inevitabilidade...

Da intemporalidade do que escrito está.

É assim mais difícil, por vezes, escrever do que gritar...

Falar com esse espelho de nós mesmos que se reflecte a cada instante quando revês o que se foi libertando de ti, ganhando forma, cor, intensidade.

E como por vezes é belo?

Outras dolorosamente belo?

Outras ainda...

Apenas vazio.

E assim neste desabafo em forma de carta se revê a tímida desesperança, carregada da imensa esperança que se prende a quem escreve...

Numa carta repleta de linhas, traços, desenhos e rabiscos, salpicados com uma pitada de poesia.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

17.09.18

 

Olho para as estrelas...

Só.

Com o cair da noite, vislumbro em cada uma delas pequenos momentos tão meus, alguns que esforçadamente gostaria de esquecer mas que se avivam, assim como, aviva a tamanha dor que se prende à memória, desgostosamente reluzente em cada pedaço de luz que nessa noite me preenche.

Mas também sorrisos, momentos imprecisos, melodias desafiantes, beijos asfixiantes, abraços inebriantes, querer...

Esse querer que apenas naquele momento, nesse pedaço de tempo em que suspenso parece estar o mundo, soletra devagarinho um silêncio profundo transformado em ruído...

Silencioso ruído dos nossos corações.

Como parece simples escrever, deixar o coração soletrar estas palavras...

Este conjunto de frases que insistem em soltar-se e nelas esvoaçar a imensa vontade de dizer que te amo.

Olho para as estrelas...

Só.

Sorrindo desmedidamente somente porque na minha memória permanece intacto esse cheiro teu, esse sabor teu, esse entrelaçar tão nosso.

E nessa memória...

Tudo será intemporal, meu amor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

16.06.17

 

 

 

Escrevendo desalinhadamente;

Juntando as letras descompassadamente,

Agrupando as ideias desorganizadamente,

Libertando as lágrimas que intrinsecamente,

Me sufocam intermitentemente,

Por esse destino insistente,

Na ausência que eternamente,

Se faz sentir ausente...

 

Escrevendo desalmadamente;

Os anseios que reticentemente,

A minha alma descrente,

Ainda sente...

 

Sentindo desmesuradamente!

 

 

 

 

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