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Caneca de Letras

07.09.23

 

Sinto um calafrio sem espinhas, ou será na espinha?

numa busca itinerante pelo que não sei,

como as letras de Pessoa, as palavras de Neruda,

entre as saudades do que se perdeu ou as lágrimas do que ainda não chegou,

mas na incerta certeza do que tenho,

insisto em buscar esse verso amar que se esconde só de leve,

no bater do sonho remelado,

no embranquecer da neve.

 

Sinto que será possível ser feliz;

num intervalo de tempo,

se o tempo tiver intervalo,

como um jogo de futebol,

sem árbitro, sem juiz, nem raiz,

num desconcerto acertado,

que se impõe interpelado,

como um simples beija-flor.

 

Sinto que o destino está descrito;

num escrito bem sucinto,

por entre sorrisos amassados,

amores entrelaçados, num divã antiquado,

aguardando a sua vez,

de nos resgatar do singelo vazio.

 

Sinto querer esse bem querer,

passe a redundância,

o merecer estremecer,

que nos chega à barriga, como borboletas a esvoaçar,

num melancólico entardecer,

num entardecer melancólico.

 

Sinto nada e tudo;

a imensidão e a escuridão,

o mesmo e o seu contrário,

cada caminhar ausente,

da chuva presente,

num raiar escaldante,

desse inferno de Dante...

 

Sinto...

mas não sei o quê!

 

 

Eu

12.01.23



 

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Um dia arrancaram-me a carne;

esse pedaço de mim iletrado

caderno ilustrado

de um tempo que desencarnou...

 

Outro dia arrancaram-me a alma;

essa parte de mim iludida

parte escondida

de um tempo que passou...

 

Nesse mesmo dia arrancaram-me a inocência;

parte desencontrada dentro de mim

como um portão de um jardim 

que se partiu...

 

E assim;

sem delongas ou demoras

se traçou o traço

se desenhou o embaraço

esse quisto mal visto

de uma pintura abstracta.

 

 

08.06.22

 

 

Tristeza no olhar;

pele marcada a tracejar,

infelicidade no rosto,

salgado desgosto,

num fio a brilhar,

no sol de agosto.

 

Velha e matreira dor;

flamejada da brava saudade

um sentir sofredor

entrelaçado na idade.

 

E volta o tempo a voar;

nas asas de um condor

infelizmente sem regressar

aos braços de meu amor.

 

06.06.22


Estampado no rosto;

entre chuva de verão

se constrange o desgosto

na palma da mão.

 

Na ombreira da porta;

por entre sombrias melodias

reza a velha torta 

afagando as suas fantasias.

 

Sem sonhos para sonhar;

lágrimas para chorar

sem anseios a suspirar

ou vontades a chegar.

 

E foi escrevendo o velho poeta;

cada linha desta oração

afastando os medos que despertam 

despertares do coração.

 

Porque amar é a singela e derradeira

vontade cimeira

de eternamente sentir.

 

 

 

 

01.06.22

 

 

Vou tentar descrever;

Escrevendo o que sinto por ti,

Sem saber como dizer,

O quão imenso é...

 

É uma forma de sonhar;

Um sorriso discreto,

Um simples escutar,

Desse bater secreto,

Da minha alma...

 

É um querer constante;

Uma verdadeira constatação,

Um prazer viajante,

Viajando pelo meu coração...

 

É um desejo indescritível;

Um carinho arrebatador,

Um mundo indecifrável,

Denominado de amor...

 

É um pedaço de ternura;

Voando através do tempo,

Guardando a eterna candura,

Do meu sentimento...

 

É ardor sem temor;

É buscar sem parar,

Na alegria ou na dor,

Abraçar, Amparar...

 

É tudo isto; 

Interminavelmente...

 

 

30.05.22

 

Adormeci sonhando que outrora voltaria a ser agora, que margens dos rios se fundiam no mar e que na volta de um dia a noite se despiria sem pudor...

Sem pudor de se desnudar e entrelaçar num beijo repleto de ondas e borbulhas, refrescantes cheiros de maresia e algas, de uma amálgama sem passado, inebriante esperança de sentir.

Por entre o sonho, pude sentir cada toque e arrepio, cada pedaço de desvario que se entrelaçou no cenário, mistura de tesão e amor, quase, tentador de um derradeiro aceno.

Quero-te e odeio-te...

Desejo e repulsa, tudo na mesma frase, na mesma alma, na mesma cama.

Fará sentido que uma despedida possa ser quadro e tela, cavalo e cela, lábios e boca?

Quem, em tanto e pouco, sente esse sabor louco de uma noite de prazer?

Adeus...

Na despedida definitiva sobra cada peça de um puzzle, cada satisfação insatisfeita de uma aguarela inacabada, caminhando solitária, por entre, soluços de desapego, numa travagem sem freio que ameaçará regressar enquanto existir memória.

Desperto lentamente...

Nada sobra, nada resta, nada do que se prometeu ficou, perdidamente se esfumando num ténue sorriso do que sabemos não nos pertencerá outra vez.

Até sempre...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

25.05.22

 

 

 

Sem ti;

faltam-me dedos na mão;

unhas e pele,

falta-me sangue nas veias,

pestanas e sobrancelhas...

 

Falta-me uma perna e um braço;

e um pequeno pedaço do nariz

mas não vejam esta imagem como um embaraço

ou um desenho traçado a giz...

Faltam-me por vezes as palavras;

palavras carregadas de intenções,

expressões preparadas,

para desarmar as minhas maldições.

Falta-me força de vontade;

e asas para voar,

sob as penas da saudade,

do que outrora se atreveu a passar...

 

Falta-me tanto e tão pouco;

nesta aventura desventurada,

meio trajecto louco,

inventado numa berma de estrada...

 

E assim vou caminhando;

solitariamente despedaçado

em busca de te encontrar

meu outro lado imaginado.

 

E se a lua tem duas faces;

e o sol duas moradas,

então continuarei a buscar,

em cada amanhecer,

a cada anoitecer,

um rastilho de ti.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

24.05.22


Tenho medo de voar, do rosmaninho e da salsa, dos coentros e dos espargos, da generalidade dos receios.

Tenho vontades e saudades, contradições de sobra, demasia repleta de preto, orvalho que antecipa trovoada.

Tenho soletradas canções em noites de luar, perpetuando a musicalidade escondida em teus abraços.

Prosas e poesias de encantar, nesses beijos em forma de toque, em cada partícula de teu sabor perdido em mim, perdido no meu.

Quero, quero muito, nesse querer que se entrelaça na tua pele, nesse adeus que insistimos em manter...

Volta o tic tac do relógio, o desespero plasmado em teu rosto, ou será no meu?, as voltas empedernidas do quotidiano.

Soletro cada parte de ti na memória, esperando que se guarde a nossa história num bonito livro de cabeceira.

E se um dia sonhares, tentando recordar o que fomos, que pinceles numa tela em branco o pulsar do nosso amor...

Ou o cantar de um trovador.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

23.05.22

 

 

Um dia li um poema que falava sobre esse sentir que se transforma, nesse desistir do amor que se torna presença...

Fitei o poema com a crença de que jamais o reescreveria, nesse pulsar de medo que açambarca a alma, nessa tristeza que se instala.

Amar é o enorme enigma da vivência humana, esse pulsar que se traduz numa imensidão de querença e ao mesmo tempo uma derradeira entrega do que mais valioso temos.

Por entre linhas e desventuras, há muito que me perdi por entre tamanhos amores alheios, lágrimas e sorrisos distantes que contavam o turbilhão de outras vidas marcadas por falésias e desfiladeiros, por abraços primeiros e beijos derradeiros...

Nunca temi e sempre temi, nunca corri e tantas vezes fugi, nunca...

E tantas vezes.

Nas máscaras guardadas no sentir vou acumulando as feridas de um olhar que se perdeu, aquela confiança que desvaneceu com o entardecer desse querer...

Traições e arrependimentos, pequenas gotas de tristeza que brotaram dos olhos em momentos asfixiantes perante a indiferença, quase, insuportável.

Na mochila que carrego nesta caminhada guardo cada sinal esquecido, cada palavra, cada parte de um nós inexistente, recordações do que um dia foi uma história de amor.

Escrever é isso, libertar a cada segundo a chama intensa de um desejo maior de contar, gritar, vociferar...

Jamais se refaz a alma de tamanho golpe, mas terá de se tentar reerguer, levantar a cada queda como se o recomeço fosse renascimento, como se renascer não trouxesse consigo mágoas e memórias.

Velhas imagens, novas convicções num instante que se repete sem parar...

Por entre vidas, em novas planícies se reencontrarão velhas histórias, velhos personagens, com novos aprendizados, renovados rumos.

Amar vale sempre a pena mesmo que do outro lado a alma seja pequena.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

22.05.22

 

Fugi de mim mesmo;

arrepiado de medo

num segundo, segredo,

noutro instante o reflexo temido.

 

Já não sou a voz que ecoa

nem o menino que existiu

sou apenas a amálgama que sobrou

de tanto que prometeu...

 

Mas sobra em mim o tamanho de esperança;

desse querer desmedido,

das promessas falhadas

em tantas quedas de água.

 

Em tua mão prometi me perder

e aqui estou...

a cumprir cada folha desse ramalhete

em cada peça do alfabeto.

 

Viva o agora;

o nunca, o ausente

entrelaçarei cada parte de mim

nesse rendilhado de imagens

que perdurará...

 

Perdurará em cada partícula de nós.

 

Porque mesmo que o amanhã se ausente;

jamais nos tirarão a memória.

 

 

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