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Caneca de Letras

04.10.21

 

 

 

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Olho para o páteo do recreio e estou só;

nada sobrou

ninguém voltou

tantos partiram

sem regresso.

 

Desapareceram aqueles que nunca tiveram importância;

aqueles que nunca me recordarei

os que sempre odiei

os que porventura amei

e até tu...

 

Partiram tantas partes de todos nós;

pedaços ilusórios sem voz

na solidão desse recreio vazio

abandonado num deserto de almas...

 

Já lá não mora ninguém;

nem correrias nem sofrimentos

nem dramas nem tormentos

nem jovens almas nem velhas esperanças...

 

Tornei-me um homem;

despeço-me daquela criança

nessa espécie de desesperança

buscando em cada pedaço de vento

a promessa que fizemos...

 

Que um dia aqui voltaríamos juntos;

num abraço imortal.

 

 

 

 

24.08.19

 

De facto as polémicas não findam...

Desta vez o País está em polvorosa por causa de géneros e casas de banho.

Nada mais adequado para um Agosto entre museus e greves, campanhas pré-eleitorais e futebol.

Segundo percebi, e nem sei bem se percebi, esta lei visa libertar jovens transgénero do jugo opressor do desconforto, dessa humilhação de terem de frequentar uma casa de banho para a qual não estão identificados.

Muito bem...

Há anos atrás vi um documentário do 60 minutos, onde abordavam este tema e a forma como na Tailândia tratavam esta temática, desde cedo criando casas de banho próprias para o 3º sexo.

3º sexo...

Era assim que identificavam este tipo de crianças e adolescentes nesse programa.

Nessa altura achei muito estranho todo o processo, assim como, a forma como esse debate me parecia ser feito, mesmo assim absorvi e tentei perceber o alcance de tal medida.

Nos dias que correm, olhando para esta lei aprovada pelo Governo, já não sei se os Tailandeses não estavam cobertos de razão.

Sei bem que muitos gritarão com esse lado dramático de quem vive estigmatizado num corpo que sente não ser o seu, que essa realidade os obriga a viver dentro de um espartilho, onde a sua identificação de género trai a sua própria percepção.

Agora o que não entendo é esta solução meio à lá carte.

Como se sentirá uma menina, quando um rapaz, sei que será supostamente transgénero, lhe entrar pela casa de banho adentro, num resgatar da sua liberdade de género?

Ou um menino numa situação inversa?

E quem definirá esse estatuto transgénero?

Questões que certamente os “entendidos” nesta lei me saberão esclarecer...

Deixemos começar o ano lectivo e esperemos para observar o que desta lei resultará.

De uma coisa estou convicto...

O caminho da Humanidade deverá ser de inclusão e integração de todos, sem excepção, no entanto, com atenção para no meio desta revolução evolutiva, não nos perdermos por entre exageros populistas.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

11.10.18

 

Uma escola do Porto resolveu questionar os seus alunos de 9 e 10 anos sobre a sua preferência sexual...

Se gostavam mais de meninos ou meninas?

Ou talvez dos dois...

Inacreditável!

Numa Era onde estamos sistematicamente expostos entre o radicalismo populista e o extremismo do politicamente correcto, sobram-nos casos e mais casos que deixam estupefacta a mais esperançada das almas, com a tamanha e infinita estupidez.

Questionar alunos sobre a sua sexualidade, já de si poderá ser uma medida discutível, mas nestas idades que servem aqui de amostra, torna-se ainda mais incompreensível e até diria inaceitável.

O que responderá uma criança, nesta idade, a um questionário destes?

Menino? Menina? Os dois?

A sério?

Se calhar poderiam por mais uns quadrados como hipóteses:

Playstation, Bola de Futebol, Ipad, Patinagem, Bonecas, Tennis, etc...

Até aposto que seria um destes o vencedor.

Sinceramente, parece que por vezes nessa busca de um imaculado ou estranho sentido de perfeição, as pessoas perdem o bom-senso, a capacidade para encontrar o equilíbrio.

A quem elaborou este inquérito, importa explicar que o mesmo não faz qualquer sentido, essencialmente pela tenra idade dos inquiridos.

No entanto, o Ministério da Educação não pode ficar silenciado, sem nada dizer, numa matéria que evidentemente lhe pertence.

Engraçado seria que alguma destas crianças tivesse o discernimento e a maturidade, coisa que ainda não é justo se lhes exigir, para escrever:

Metam-se na vossa vida!

Teria sido extraordinário.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

16.11.17

 

Sempre que passo na Junqueira, sempre que ando por ali, deparo-me com uma parte desta tristeza, que intensamente me invade...

Andei no Rainha D. Amélia, em tempos distantes, longínquos e frenéticos, onde a porta daquele liceu parecia a entrada para um mundo sedutor que nos preenchia, fazia parte do nosso imaginário juvenil.

O Sr. Eusébio, sempre à porta, no meio de um rebuliço constante, por entre adolescentes sentados nos gradeamentos que ali se dispunham, por entre cigarros, namoros, conversas.

Admito que passei mais tempo no café Matinal, do que nas aulas com a Professora Lina da Paz ou o Professor Fiães...

Não me orgulho, mas não me arrependo.

O Rainha D. Amélia teve uma imensa importância em mim, na minha formação como pessoa, na maneira como vejo o mundo e como esse mundo que desconhecia, me tornou parte de si.

Nunca pensei que ao entrar para o Rainha, isso pudesse ser tão relevante no meu futuro, pois algumas das pessoas mais importantes que conheci na minha vida, devo-as ao facto de por ali ter passado, directa ou indirectamente, marcando assim, de maneira indiscutível, o meu percurso, o meu desencontrado destino.

Ao passar por aquelas portas, olhando para o ar abandonado com que actualmente se encontra, reencontro naquelas ruínas parte daqueles com quem privei, pequenas partes de mim.

Naquelas janelas fechadas, naquelas paredes a cair, vejo tristezas e sorrisos, memórias e histórias, conversas que ficaram perdidas num tempo, que já não volta...

Não se recupera.

O meu Rainha morreu, por entre a burocracia de um Estado negligente, sobrando a tristeza que insiste em me amarrar, sempre que pelas ruínas do Liceu passo, temendo também o dia em por lá veja, mais um qualquer Hotel...

Um outro espaço.

Um novo lugar, que esventre a memória, se imponha ao passado de milhares de almas, que durante décadas ali cresceram, sonharam, tentaram acreditar que era possível voar.

No meio dessas ruínas, encontra-se o meu obrigado, a todos aqueles que ajudaram a moldar o homem que hoje sou...

Professores, Continuas, Porteiros, Colegas, Amigos.

Tantas e tantas pessoas, que fizeram parte daquele mundo...

Um mundo em ruínas, mas que para sempre me pertencerá.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

28.10.17

 

Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac...

O ponteiro do relógio a passar, os minutos a acumularem-se, percorrendo desesperadamente o seu curso, rumo ao ponteiro maior, ao encontro destinadamente inadiado.

Nos olhares que se cruzam, quase todos interrogativos, lá se encontram alguns tranquilos, meio sorridentes, desafiando a intranquilidade reinante.

A professora, de bata branca, sentada naquela secretária em cima de um estrado, com uma chávena fumegante de chá, óculos gigantes que lhe aconchegam o rosto...

Os seus olhos por vezes se cruzavam com os nossos, controlando, tentando controlar.

Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac...

Ruído ensurdecedor, gigantesco silêncio desacompanhado pelo receio de não conseguir preencher a tamanha folha em branco, tão pouca sabedoria que de dentro da minha mente, pareceria querer soltar-se.

Questões e mais questões, perguntas e mais perguntas, num misto de interrogatório, meio inquisitivo de tudo aquilo que ao longo do tempo, nos foram debitando...

- Meu Deus!

Toca a campainha lá fora...

Pára o relógio, invade-nos o barulho de tantas e tantas crianças, que ao contrário de nós estavam libertas para ser crianças, para correr pelo recreio sem o peso de um teste, a meio do dia...

Aquele teste.

Chegava a hora e afinal parecia ter conseguido fazer quase tudo, escrever quase tudo, como sempre...

O relógio parecia estagnar, dar lugar a um certo sorriso aprisionado ao nosso olhar, a essa ternura de ser criança, sem testes, sem dramas.

Acordei!

Já não tenho testes, não tenho carteira nem colegas de turma, não tenho colégio...

Nem sequer em mim resiste, esse intemporal friozinho na barriga.

Já não existe...

Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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